sábado, 13 de novembro de 2010

“Se pagar bem, claro que vendo o SBT”, diz Silvio Santos


Folha de São Paulo




O empresário Silvio Santos atendeu ontem à noite, em sua casa, a um telefonema da Folha. Ele disse que, se alguém pagar o que ele deve ao FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que emprestou à sua holding dinheiro para cobrir o rombo do banco PanAmericano, pode comprar o SBT. Leia entrevista.



Folha – Eu gostaria que o sr. desse uma palavra para o público sobre tudo o que está acontecendo no banco.



Silvio Santos – Não posso porque eu assinei um termo de confidencialidade. Eu assinei um termo de conf… confidencialidade… é até difícil de falar! Não posso comentar nada. Só quem pode falar é o Fundo Garantidor de Crédito.



O sr. se encontrou com o Lula. Falou com ele sobre isso?



Que Lula?



O presidente.



Estive com ele falando sobre o Teleton [programa que arrecada recursos para a AACD]. Ele está me devendo R$ 13 mil [risos]. Tive que dar por minha conta porque ele prometeu e não deu os R$ 13 mil [que disse que doaria].

Eu falei para ele: “Se você der R$ 13 mil, a Dilma pode ganhar a eleição”. Porque é o número dela, não é? Não é 13 o número da Dilma? “Pode ser que Deus te ajude e ela ganhe a eleição.”



E ela ganhou do mesmo jeito.



Mas aí é que tá: agora tô preocupado [risos]. Ele fez a promessa e não cumpriu.



E o senhor votou nela?



Eu estou com 80 anos. Você acha que eu vou sair de casa para votar? Vou votar é em mim mesmo aqui em casa.



E aquela história da bolinha [reportagem do SBT afirmou que o candidato tucano, José Serra, foi atingido, numa manifestação, por uma bolinha de papel, e não por um objeto mais pesado, como ele dizia]? Todo mundo está falando que o SBT fez a reportagem porque estava com problema no banco.



Mas que bolinha?



A bolinha que caiu na cabeça do Serra.



Caiu alguma coisa na cabeça dele? [risos] Caiu alguma coisa na cabeça dele?



Na campanha.



Ah, não foi hoje?



Não.



Ah, eu não sei desse negócio de bolinha, não. Isso aí, olha, eu não vejo TV. Televisão, para mim, é trabalho. Só vejo filme. Agora que você ligou para mim eu estava vendo a Fontana di Trevi. Você já viu esse filme, “A Fonte dos Desejos” (de Jean Negulesco)? Eu estava vendo agora.



E essa informação de que o empresário Eike Batista quer comprar o SBT?



No duro?



É.



Ah, me arranja! Arranja para mim que eu te dou uma comissão.



O senhor venderia?



Se ele me pagar bem, por que não? Quem é? “Elque”?



Eike, um dos homens mais ricos do Brasil.



Ele é americano? Eike?



Brasileiro.



Não, não conheço. Mas, se ele pagar os R$ 2,5 bilhões que estou devendo, vendo, é claro que vendo. Não precisa nem pagar para mim, paga para o Fundo Garantidor de Crédito. Eu não posso vender nada sem passar pelo Fundo Garantidor de Crédito.



O senhor está bem? Triste? Chateado?



Eu estou sempre bem. Você já me viu mal?



O senhor ficou surpreso com tudo o que aconteceu?



Não posso falar.



Mas o senhor coloca o seu nome e a sua história como garantia de tudo…



É claro. A holding [do grupo Silvio Santos] só recebeu R$ 2,5 bilhões porque eu dei todos os meus bens em garantia. [A operação se realizou] Como se fosse num banco particular. Mas com banco particular seria mais difícil porque os bancos particulares não querem concorrência [do banco PanAmericano].



O Bradesco não emprestaria para o seu banco, né?



É claro [que não]! Acha que o Bradesco… eu não digo o Bradesco. Mas um banco particular não vai querer me emprestar R$ 2,5 bilhões por dez anos. Vai? Até vou tentar conseguir, quem sabe?



E o ex-superintendente do PanAmericano, Rafael Palladino?



Palladino? Que Palladino? Nunca fui ao banco. Nem sei onde é o prédio. Quando tenho dinheiro, abro uma empresa no Brasil. Aplico no mercado brasileiro. Mas não sou obrigado a ficar sabendo onde é a empresa. Eu tinha uma fazenda que era a segunda maior do Brasil, a Tamakavi, e nunca fui lá. Nem vi no mapa.

A única coisa com que me preocupo é com a televisão. Eu sou investidor. Se [o negócio] der certo, deu. Se não der certo, não deu. A TV é o meu negócio. Mesmo que não desse certo, é o meu hobby.

Agora, os outros são negócios. Eu não sou obrigado a entender de perfumaria, de banco. Eu não! Isso aí eu boto dinheiro, pago bem os profissionais e eles têm que me dar resultados. E, às vezes, falham. Desta vez, falhou.



E a auditoria não pegou…



Mas quem é que arranja a auditoria? Não é o próprio executivo do banco? Que culpa tenho eu? Você vai publicar isso na Folha? A Folha fez uma matéria muito boa hoje. Ninguém sabia o que era Fundo Garantidor de Crédito. Pensavam que era um órgão do governo. Aquilo ali é praticamente uma companhia de seguros. Nem jornalista sabia. Aquilo ali realmente é para poder emprestar dinheiro, garantir o que você tem no banco. Se você tem até R$ 60 mil, garante.



Não é dinheiro público…



Mas claro que não é. O dinheiro é particular. É uma empresa sem fins lucrativos.



E com o Henrique Meirelles, o senhor tem falado muito?



Nem conheço. Não sei quem é. Olha, capricha, bota uma foto minha bem bonita no jornal.

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