sábado, 20 de novembro de 2010

Capiberibe acusa Sarney de comprar testemunhas

LUCAS FERRAZ


Da Folha de S. Paulo







Ex-governador do Amapá, João Capiberibe (PSB) acusou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de envolvimento na compra de testemunhas em processo que levou à cassação de seu mandato e do de sua mulher, Janete Capiberibe.



Eles foram enquadrados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na Lei da Ficha Limpa e aguardam definição do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o caso.



O político ainda briga na Justiça para ter direito ao mandato de senador para o qual foi eleito.



O presidente do Senado nega e diz que as acusações são “absurdas”.



Reportagem da Folha revelou que um ex-funcionário de uma TV da família do senador Gilvam Borges (PMDB-AP) acusou o político de comprar testemunhas para depor contra o casal. Isso resultou na cassação dos mandatos deles, pela Justiça Eleitoral, em 2004. Veja trechos da entrevista.



Folha - Como não é possível mudar sua cassação na Justiça, o que fazer com os depoimentos?



João Capiberibe - Imagino que pedir uma investigação no Ministério Público. Esgotaram as possibilidades de rever o caso.



Talvez um processo cível de recuperação da imagem pública ou mesmo criminal, por calúnia e difamação. Tem mais o sentido de mostrar à sociedade que fomos penalizados injustamente. Foi uma armação que não conseguimos desarmar por inexperiência. Nunca imaginei que pudesse chegar à cassação do mandato.



Por que Gilvam Borges comprou as testemunhas?



O processo é de inteira responsabilidade do PMDB, que foi o grande beneficiado. Ele fez porque sabia que podia ser beneficiado.



E, agora, mais uma vez, se o Supremo fizer valer a Lei da Ficha Limpa, mais uma vez ele será beneficiado, ganhando uma vaga que eu ganhei por voto popular.



Então o PMDB foi o responsável por sua cassação?



Claro, o partido e seu expoente máximo, José Sarney. Não tenho dúvida.



O sr. tem alguma prova da participação de José Sarney?



É uma acusação política porque ele é a figura maior do PMDB. Há uma advogada que atuou no processo contra mim, que é do Senado.



Por que o PMDB armou esse processo contra o sr.?



Quando fui governador tivemos muitos conflitos. Em 1998, lancei um candidato para disputar contra o Sarney, que ameaçou a eleição dele. Quando cheguei ao Senado, ele, como ex-presidente da República e rei da província, achou que eu devia seguir sua orientação política. Se não segui a orientação dele no passado, quando era do partido da ditadura, não ia ser agora.



Respeito ele como adversário, mas Sarney não suporta crítica.



O que esperar agora da Justiça Eleitoral?



Minha esperança é o STF, que espero que garanta a decisão popular. A criminalização do processo eleitoral causa um temor enorme.







Presidente do Senado diz se tratar de absurdo



Por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), rebateu as acusações de João Capiberibe (PSB-AP) de que estaria por trás da compra de testemunhas no processo que resultou na cassação do mandato do ex-senador e do de sua mulher, a ex-deputada Janete (PSB-AP).



"É uma declaração absurda, sem nenhum fundamento", afirmou Sarney.



O senador Gilvam Borges (PMDB-AP), principal aliado de Sarney no Amapá e adversário político dos Capiberibe, também negou ter atuado na cooptação das testemunhas e acusa o casal de pagar por testemunhas favoráveis.



"Sou vítima desse processo. Foi o Capiberibe que pagou e cooptou essa testemunha", disse Borges.



O peemedebista também chamou de "bandido" o ex-funcionário de uma TV de sua família que o acusou de ter pago pelos depoimentos no processo contra o casal.



Em dois depoimentos de julho, um registrado em cartório, em Macapá (AP), e outro prestado na condição de informante ao Ministério Público Federal, o ex-funcionário Roberval Araújo contou ter sido procurado por Borges para realizar uma operação intitulada Cavalo Doido.

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