LUCAS FERRAZ
Da Folha de S. Paulo
Ex-governador do Amapá, João Capiberibe (PSB) acusou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de envolvimento na compra de testemunhas em processo que levou à cassação de seu mandato e do de sua mulher, Janete Capiberibe.
Eles foram enquadrados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na Lei da Ficha Limpa e aguardam definição do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o caso.
O político ainda briga na Justiça para ter direito ao mandato de senador para o qual foi eleito.
O presidente do Senado nega e diz que as acusações são “absurdas”.
Reportagem da Folha revelou que um ex-funcionário de uma TV da família do senador Gilvam Borges (PMDB-AP) acusou o político de comprar testemunhas para depor contra o casal. Isso resultou na cassação dos mandatos deles, pela Justiça Eleitoral, em 2004. Veja trechos da entrevista.
Folha - Como não é possível mudar sua cassação na Justiça, o que fazer com os depoimentos?
João Capiberibe - Imagino que pedir uma investigação no Ministério Público. Esgotaram as possibilidades de rever o caso.
Talvez um processo cível de recuperação da imagem pública ou mesmo criminal, por calúnia e difamação. Tem mais o sentido de mostrar à sociedade que fomos penalizados injustamente. Foi uma armação que não conseguimos desarmar por inexperiência. Nunca imaginei que pudesse chegar à cassação do mandato.
Por que Gilvam Borges comprou as testemunhas?
O processo é de inteira responsabilidade do PMDB, que foi o grande beneficiado. Ele fez porque sabia que podia ser beneficiado.
E, agora, mais uma vez, se o Supremo fizer valer a Lei da Ficha Limpa, mais uma vez ele será beneficiado, ganhando uma vaga que eu ganhei por voto popular.
Então o PMDB foi o responsável por sua cassação?
Claro, o partido e seu expoente máximo, José Sarney. Não tenho dúvida.
O sr. tem alguma prova da participação de José Sarney?
É uma acusação política porque ele é a figura maior do PMDB. Há uma advogada que atuou no processo contra mim, que é do Senado.
Por que o PMDB armou esse processo contra o sr.?
Quando fui governador tivemos muitos conflitos. Em 1998, lancei um candidato para disputar contra o Sarney, que ameaçou a eleição dele. Quando cheguei ao Senado, ele, como ex-presidente da República e rei da província, achou que eu devia seguir sua orientação política. Se não segui a orientação dele no passado, quando era do partido da ditadura, não ia ser agora.
Respeito ele como adversário, mas Sarney não suporta crítica.
O que esperar agora da Justiça Eleitoral?
Minha esperança é o STF, que espero que garanta a decisão popular. A criminalização do processo eleitoral causa um temor enorme.
Presidente do Senado diz se tratar de absurdo
Por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), rebateu as acusações de João Capiberibe (PSB-AP) de que estaria por trás da compra de testemunhas no processo que resultou na cassação do mandato do ex-senador e do de sua mulher, a ex-deputada Janete (PSB-AP).
"É uma declaração absurda, sem nenhum fundamento", afirmou Sarney.
O senador Gilvam Borges (PMDB-AP), principal aliado de Sarney no Amapá e adversário político dos Capiberibe, também negou ter atuado na cooptação das testemunhas e acusa o casal de pagar por testemunhas favoráveis.
"Sou vítima desse processo. Foi o Capiberibe que pagou e cooptou essa testemunha", disse Borges.
O peemedebista também chamou de "bandido" o ex-funcionário de uma TV de sua família que o acusou de ter pago pelos depoimentos no processo contra o casal.
Em dois depoimentos de julho, um registrado em cartório, em Macapá (AP), e outro prestado na condição de informante ao Ministério Público Federal, o ex-funcionário Roberval Araújo contou ter sido procurado por Borges para realizar uma operação intitulada Cavalo Doido.
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