sábado, 6 de novembro de 2010

Entre Ratos e Homens

Do jornal pequeno



Não sei o nome pelo qual atende entre os seus, os da sua praia ou tribo, mas o que sei é que, embora não saiba o seu nome, já estamos na terceira rodada e agora estou sem saber se eu o venci ou se ele me venceu.




Os médicos deram para receitar banana porque descobriram, enfim, que os macacos nunca se deprimem. Estão sempre alegres, bem dispostos e salientes. A razão de tanta exuberância é o potássio que na banana está em maior quantidade.



Manhã bem cedo quando vou à bacia de frutas pegar minha banana noto que uma delas está comida até a metade. Separo-a das outras e me detenho examinando. Por duas ou três manhãs, a mesma coisa.



Se não foi dente de gente nem de macaco, dente de que bicho seria? A Iraci, que sabe tudo desses meandros, lança a suspeita – isso é coisa de rato.



Ora, se rato gosta tanto assim de banana então ele se aparenta dos macacos, por conseguinte também dos homens, todos necessitados de doses e mais doses de potássio.



Daí, fico a imaginar querendo encontrar razões para o fato de ter homem tão parecido com rato e também com macaco e de ter homem com atitude de rato ou com atitude de macaco.



Se tu reparas bem, o macaco não é larápio. Ele te surrupia a banana em gestos engraçados, não espera tu dares as costas para o objeto do desejo dele, não age nas caladas da noite. O macaco é transparente.



O rato, não. O rato que nem algumas categorias de homens sem categoria não age às claras, prefere sempre as caladas da noite para suas práticas deletérias.



Então, a banana que amanhece mordiscada até quase pela metade na bacia de frutas na cozinha é coisa de rato. Mas que calhorda!



Se eu continuar leniente ele vai espalhar outdoor pelas esquinas da ilha, num rasgo de bom mocismo, me agradecendo as quase vinte bananas que ele comeu pelas beiradas nas madrugadas lá em casa, enquanto todos dormiam.



Estou sabendo sobre uma senhora Karen Robbins que mantém uma ONG nos Estados Unidos voltada para a proteção dos ratos, os quais são tratados com estima e carinho.



Aqui também nesta quase França Equinocial, incluindo a do Amor, tem pessoas com seus ratinhos de estimação, tratados como leais companheiros, gordinhos, rechonchudos, alguns até lembrando gorgulho, aquele bicho que ataca sacas de feijão.



Os ratos, aliás, ajudaram os romanos num sentido inverso a conquistarem muitos territórios.



Muitos lugares tinham ratos demais, os povos em meio a tantas doenças não sabiam o que fazer. Àquelas alturas, os romanos já haviam descoberto o gato como invencível devorador de ratos.



E levavam centenas de milhares de gatos famintos em suas expedições. Muitas vezes nem precisavam fazer guerra. Era soltar os gatos atrás dos ratos e os povos, aliviados, se entregavam logo aos romanos.



Voltando ao rato devorador de bananas aqui de casa, já estou na terceira rodada e não sei quem venceu a parada.



Na primeira, misturei bifinho da Miúcha com chumbinho. O danado comeu tudo. Na noite seguinte peguei apara de pizza e fiz sanduíche de chumbinho. Não amanheceu nada. Sinal de que comeu tudo. Na terceira eu deixei só caroços de chumbinho espalhados no roteiro dele. Amanheceu tudo do mesmo jeito. Mas a banana sempre mordiscada.



No reino animal deve ter um ministério público para ratos. Não é possível. Deve ter.



Edson Vidigal, ex-presidente do STJ, professor de Direito na Ufma, escreve para o Jornal Pequeno às quintas-feiras.

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