quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ALCATEIA

Por José reinaldo Tavares




A governadora Roseana Sarney temerariamente lançou a candidatura do chefe da Casa Civil, Luís Fernando, ao governo do estado na semana passada. Mal completou nove meses de mandato e, contrariando a prática política de preservar o seu próprio governo, só permitindo o debate de sua sucessão no último ano, ela inopinadamente lançou seu candidato ao governo para a eleição de 2014.
Todos os governadores não admitem sombra política, pois isso desvia o foco da gestão que nesse período tenta encontrar seu rumo e lançar os seus mais importantes programas de governo. Mas sabe-se lá por que, talvez devido ao marasmo em que envolveu o seu próprio governo, ela se sentiu obrigada a lançar a novidade.
Foi tão estranho, que na Assembleia pairou uma dúvida se o chamado para Luís Fernando descer do terceiro andar, onde é seu gabinete, para o segundo, onde é o dela, não seria para já – agora – pois ela própria se colocou ausente e é imperioso que alguém governe. Luís Fernando foi colocado na Casa Civil para comandar o governo, mas, por temperamento e timidez, não assumiu até hoje, preferindo fazer seminários pelo interior do estado. Talvez faça isso por não sentir segurança em tentar comandar um governo sem nenhum controle, dividido, e sem programas estruturantes e mobilizadores. Talvez saiba que do jeito que está é difícil…
E para sacramentar a grande bagunça que se instalou ali, os blogs da Mirante, empresa da governadora, divulgaram a notícia de modo muito revelador do clima político de mixórdia que paira ali. Ou seja, anunciaram que ela havia lançado Luís Fernando candidato à sua sucessão e ao mesmo tempo matado a alcateia que ameaçava lançar candidato dentro do grupo.
Alcateia, no dicionário, é o substantivo coletivo para lobos. Como faz parte da oligarquia, a família Lobão, representada na Câmara Federal, no Senado e no ministério de Dilma, chefiada por Edison Lobão. Sim, o mesmo que foi recém-eleito senador e que, como divulgou, teve mais votos que a governadora (fato inaceitável para a oligarquia).
A compreensão natural é que o anúncio feito pelas hostes miranteanas embutia uma agressão ao “aliado”. Gratuita e desnecessária, mas dentro do jeito Roseana de ser. Pura arrogância. Lobão, político experimentado, deve ter se queixado ao senador José Sarney, mas nada dirá de público nem responderá a agressão. Mas na hora certa dará o troco.
Roseana há pouco tempo deu um “chega para lá” em outro senador, desta vez João Alberto, que na moita também é candidato ao governo do estado. João Alberto era o patrono da candidatura à prefeitura de São Luís de Roberto Costa, seu fiel escudeiro. Se este vencesse a eleição, João Alberto se tornaria o mais forte candidato ao governo do estado pelo lado da oligarquia.
No entanto, Roseana, para manter viva a candidatura de Luís Fernando, muito amigo de Jorge Murad, seu marido, chegou espanando tudo e de surpresa lançou a candidatura de Max Barros. Mesmo que não ganhe, impede a candidatura de Roberto Costa, que estava muito desenvolto. Parece que ela não gosta muito dos seus senadores, pois os colocou na mira de seus canhões…
Pois bem, este é um jogo que ainda precisa ser jogado. Nada garante a Roseana que no final das contas tudo fique como planejou. Tanto João Alberto quanto Lobão tem em 2014 a sua (possivelmente) última oportunidade de voltar ao governo, como eles tanto querem. Ambos terão ainda quatro anos de mandato de senador e, portanto, nada perdem. Lobão sairá do PMDB na hora certa e irá para o PSD, onde seus amigos lhe garantirão a legenda. João Alberto, por sua vez, é dono do PMDB, onde manda e desmanda. Sarney, terminando mandato, não sendo candidato a reeleição, vestirá uma saia justa e pouco poderá fazer.
Esse é o quadro que Roseana atabalhoadamente tenta controlar, mas que dificilmente sairá como ela quer.
Não bastasse isso, Roseana continua brincando com coisa muito séria. No seu governo anterior, inventou o tele-ensino do segundo grau e agora faz escolhas muito descuidadas para a pasta mais importante para o futuro do estado. Nada tenho a dizer quanto aos escolhidos em si, mas sim, com relação a absoluta falta de preparo específico para pasta tão importante. É garantia de que nada importante se fará ali para corrigir o tremendo atraso do Maranhão, comparativamente com os outros estados. É um fosso que vai se alargando negativamente. É uma irresponsabilidade muito grande. Se fosse em uma pasta menos importante e estratégica… Mas na Educação?
Mas para quem privou os jovens estudantes maranhenses do ensino médio, ao ponto de, quando deixou o governo em 2002, inexistir a oferta dessa etapa do ensino em 157 municípios do estado, isso não é nada demais.
E agora ela comete um ato muito reprovável. Inaugurou três UPAs como se fosse mérito dela, sem citar que esse é um programa do governo federal, lançado ainda no governo Lula e continuado pela presidente Dilma. Ela fez um convênio para construir dez UPAs e até agora só concluiu três. Ela constrói com dinheiro federal e depois de concluídas é que começará a parte de sua responsabilidade, que é o funcionamento da unidade. Portanto, só daqui para frente, de acordo com a qualidade do atendimento, é que Roseana mostrará seu trabalho.
Ela, porém, muito carente de realizações, nada disse sobre isso e tentou passar para a população que é um projeto de seu governo. Um belo equívoco, não é, Roseana?
E já viram que agora qualquer coisa que fazem na área da saúde é de alta complexidade? Mesmo que seja banal, passa a ser de alta complexidade. Creio que de alta complexidade é o governo que ela está fazendo. São os reis da marquetagem…
E para finalizar, o senador José Sarney deve estar muito feliz com a defesa que fizeram dele na Assembleia, quando do episódio do uso do helicóptero da PM. Isso demonstra que, com esses amigos, ele não precisa de inimigos. A repercussão da defesa foi quase tão grande, e negativa, quanto o uso do helicóptero. Deve ter ficado muito feliz. Será que já agradeceu ao esforçado deputado?

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