sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
No WikiLeaks: Roseana Sarney fez operações secretas em paraísos fiscais, diz executivo suíço
Do jornal pequeno
BRASÍLIA - Documentos em poder do executivo suíço Rudolf Elmer mostram que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e o marido dela, Jorge Murad, fizeram operações secretas no banco Julius Baer, nas Ilhas do Canal e Ilhas Virgens, dois dos mais conhecidos paraísos fiscais. Na última segunda-feira, Elmer entregou parte dos papéis, uma lista com nomes de dois mil empresários e políticos acusados de movimentação de dinheiro de origem suspeita, ao fundador do site WikiLeaks, Julian Assange.
Para Elmer, essa seria uma forma de combater a sonegação, a corrupção e a lavagem de dinheiro em âmbito internacional. Ele foi preso na última quarta-feira sob acusação de quebra de sigilo bancário.
Na relação, obtida pelo GLOBO antes de o material ser encaminhado ao WikiLeaks, constam ainda os nomes de outros brasileiros e de empresários e políticos de outros países. Numa entrevista em Londres, logo depois de receber a lista de Elmer, Assange disse que iria repassar o material para o "Financial Times" e para a "Bloomberg".
Roseana e Murad: emissários de depósito de US$ 10 mil
Os nomes de Roseana e Jorge Murad aparecem associados à Coronado Trust-JBTC, que seria administrada pelo também brasileiro Joseph Brafman. Na lista de Rudolf, Roseana e Murad aparecem como emissários de um depósito de US$ 10 mil.
A transação foi feita numa operação triangular com a Totar Business Corporation, empresa aberta nas Ilhas Virgens para gerenciar a Coronado Trust e, com isso, dificultar ainda mais a identificação dos verdadeiros donos do negócio.
O repasse foi registrado em 27 de setembro de 1993. Roseana e Murad fundaram a Coronado Trust em 1993 e a mantiveram aberta até 1999. Trust é uma espécie de contrato que dá ao titular poderes para fazer movimentações financeiras e patrimoniais em nome de terceiros.
Entre os brasileiros da lista de Elmer estão ainda Luiz Fernando da Cruz Secco e Sônia Silva da Cruz Secco, destinatários de US$ 900 mil. Os dois são do Rio de Janeiro. Aparece também o nome da Fabus Foundation, cujo contato é José Diniz de Souza, também beneficiário de US$ 900 mil. Pelos documentos, a Foundation tem sede em Campinas. Na lista constam ainda nomes de americanos, ingleses, alemães, espanhóis, árabes, chineses, canadenses, argentinos, gregos, irlandeses, libaneses, mexicanos, malteses, peruanos e suíços, entre outros.
Rudolf Elmer tem dito que decidiu vazar os documentos para coibir a sonegação, a lavagem e a corrupção que, para ele, seriam acobertadas em parte por regras do sistema financeiro que opera em paraísos fiscais. Ele trabalhou na sede do banco, na Suíça, e depois chefiou as operações da instituição nas Ilhas Cayman. Num determinado momento, entrou em choque com a empresa e decidiu vazar um dos segredos mais cobiçados: a movimentação de dinheiro de quem tenta pagar menos impostos, esconder patrimônio ou simplesmente escapar de investigações fiscais ou criminais.
Trust teria sido mantida sem movimentação
Procurados pelo GLOBO, Roseana e Jorge Murad confirmaram a existência da Coronado Trust. Segundo o advogado da governadora, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, Murad decidiu abrir a Trust no início da década de 90 para proteger o patrimônio. Naquele período, ele teve uma filha numa relação fora do casamento. O advogado disse, no entanto, que a Trust não recebeu ou repassou dinheiro a partir do Julius Baer. Ela teria sido mantida por seis anos sem qualquer movimentação.
- O depósito (que aparece no arquivo de Elmer) foi apenas para custear as despesas da própria Trust - disse Kakay.
Em dezembro do ano passado, Kakay se reuniu com dirigentes do banco Julius Baer na Suíça e obteve uma declaração de que a Coronado não recebeu recursos da Totar. O GLOBO tentou, sem sucesso, localizar Joseph Brafman. O advogado enviou nesta quarta-feira uma mensagem aos defensores de Assange alertando para o risco de divulgação de informações equivocadas sobre Roseana Sarney.
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