quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

PMDB NAO MORDE, ABOCANHA

DE SÃO PAULO
Por Eliane Cantanhêde
Colunista da Folha de São Paulo


Dilma assumiu num dia e, no dia seguinte, já começaram as dores de cabeça inevitáveis. E a mais inevitável delas era justamente a convivência com o PMDB, tão necessário quanto problemático. Ruim com ele, pior sem ele…

Com a maior bancada no Senado e a segunda maior na Câmara, o partido tem a Vice Presidência da República, a presidência do Senado e uma penca de ministérios, mas já abriu fogo para guerrear com o PT pelos polpudos cargos de segundo escalão.

Para citar alguns: Banco do Brasil, Infraero, Correios e Furnas. Não é pouca coisa, não. Mais vale um Banco do Brasil na mão do que um ministeriozinho de Assuntos Estratégicos voando por aí sem ninguém saber para onde.

A cúpula do PMDB é aquela que a gente já conhece de cor e salteado: Sarney, Renan, Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves, Eduardo Cunha, Waldir Raupp… Uma turma da pesada. Sem falar no vice Michel Temer, mais polido, e no novo ministro Moreira Franco (Ah! O de Assuntos Estratégicos.)

Foi essa mesma turma que boicotou, descaradamente, as posses, pelo menos, do novo ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, que cuida do varejo no Congresso, e do novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, antecessor de Luiz Sérgio na articulação política e agora encastelado numa vaga antes peemedebista.

Ato contínuo, Henrique Eduardo, líder na Câmara, passou a ameaçar o governo de votar no Congresso um salário mínimo maior do que R$ 540, o que obrigou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em pessoa, a avisar que, neste caso, a presidente Dilma Rousseff vai vetar.

Ou seja: o PMDB passaria de bonzinho para a opinião pública, aprovando um mínimo, por exemplo, de R$ 560, enquanto caberia a Dilma a ingrata tarefa de vetar, em favor das contas públicas, logo no início do mandato.

Há ainda outros pontos fáceis de chantagem com o governo além do mínimo: o aumento do Judiciário, a volta da CPMF, a criação da Comissão da Verdade para investigar crimes da ditadura militar.

A lista é robusta. E, para onde o PMDB for, a votação tenderá a ir também. Porque, hoje, ele está com o governo; amanhã, poderá estar com o PSDB e o DEM numa votação qualquer.

Mas, vamos pensar um pouco juntos e revisitar a tática do PMDB com o governo, qualquer governo: é do tipo que ameaça, obtém o que quer e não costuma cumprir ameaça nenhuma. Sabe a velha história? “Cão que ladra não morde…”

Mas, no caso do maior partido do país, ele é do tipo de cão que não morde, mas abocanha nacos substanciais de poder.

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