DE SÃO PAULO 
Por Eliane Cantanhêde
Colunista da Folha de São Paulo
Dilma assumiu num dia e, no dia seguinte, já começaram as dores de cabeça inevitáveis. E a mais inevitável delas era justamente a convivência com o PMDB, tão necessário quanto problemático. Ruim com ele, pior sem ele… 
Com a maior bancada no Senado e a segunda maior na Câmara, o partido tem a Vice Presidência da República, a presidência do Senado e uma penca de ministérios, mas já abriu fogo para guerrear com o PT pelos polpudos cargos de segundo escalão. 
Para citar alguns: Banco do Brasil, Infraero, Correios e Furnas. Não é pouca coisa, não. Mais vale um Banco do Brasil na mão do que um ministeriozinho de Assuntos Estratégicos voando por aí sem ninguém saber para onde. 
A cúpula do PMDB é aquela que a gente já conhece de cor e salteado: Sarney, Renan, Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves, Eduardo Cunha, Waldir Raupp… Uma turma da pesada. Sem falar no vice Michel Temer, mais polido, e no novo ministro Moreira Franco (Ah! O de Assuntos Estratégicos.) 
Foi essa mesma turma que boicotou, descaradamente, as posses, pelo menos, do novo ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, que cuida do varejo no Congresso, e do novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, antecessor de Luiz Sérgio na articulação política e agora encastelado numa vaga antes peemedebista. 
Ato contínuo, Henrique Eduardo, líder na Câmara, passou a ameaçar o governo de votar no Congresso um salário mínimo maior do que R$ 540, o que obrigou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em pessoa, a avisar que, neste caso, a presidente Dilma Rousseff vai vetar. 
Ou seja: o PMDB passaria de bonzinho para a opinião pública, aprovando um mínimo, por exemplo, de R$ 560, enquanto caberia a Dilma a ingrata tarefa de vetar, em favor das contas públicas, logo no início do mandato. 
Há ainda outros pontos fáceis de chantagem com o governo além do mínimo: o aumento do Judiciário, a volta da CPMF, a criação da Comissão da Verdade para investigar crimes da ditadura militar. 
A lista é robusta. E, para onde o PMDB for, a votação tenderá a ir também. Porque, hoje, ele está com o governo; amanhã, poderá estar com o PSDB e o DEM numa votação qualquer. 
Mas, vamos pensar um pouco juntos e revisitar a tática do PMDB com o governo, qualquer governo: é do tipo que ameaça, obtém o que quer e não costuma cumprir ameaça nenhuma. Sabe a velha história? “Cão que ladra não morde…” 
Mas, no caso do maior partido do país, ele é do tipo de cão que não morde, mas abocanha nacos substanciais de poder.
 
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