domingo, 27 de junho de 2010

'Roseana vive de propagandas de um Maranhão que não existe'

Alexandra diz que o povo se cansou de ser enganado e afirma:

Presença confirmada na 7ª Parada do Orgulho pela Diversidade Sexual de São Luís, que acontece hoje, na Avenida Litorânea, a ex-primeira-dama Alexandra Tavares declarou, nesta entrevista, que durante o governo do ex-marido, José Reinaldo Tavares, sofreu tantos preconceitos quanto os homossexuais. Acostumada aos achincalhes da mídia controlada pelo grupo Sarney, Alexandra não se esquiva dos temas polêmicos, com a mesma coragem que marcou sua passagem pelo governo.

“Eles diziam nos jornais deles que eu era uma suburbana, nascida no Gama. Graças a Deus eu nasci suburbana, senão seria uma Roseana ou um Sarney”, enfatizou. Advogada, 37 anos, ex-comissária de bordo, com curso de sobrevivência na selva, ela fez revelações típicas de quem não tem medo de enfrentar predadores ou velhas raposas da política maranhense.

Jornal Pequeno – A senhora declarou, em recente entrevista, que a governadora Roseana é um produto de marketing. Por quê?

Alexandra Tavares – Eu fiz essa declaração à Rádio Capital, há cerca de um mês, e os fatos só comprovaram isso. Roseana desfila nos arraiais de São Luís, acompanhada do próprio marqueteiro, Duda Mendonça, que vai fazer a campanha dela ao governo, com fotos e notas publicadas no próprio jornal e nos blogs do sistema de informação de propriedade da família Sarney. Até então, não há nada demais, se o governo de Roseana não fosse um governo de propaganda, de outdoor, de comerciais que não refletem os graves problemas enfrentados pela população do estado.

Eles mostram um Maranhão que não existe. Na época de José Reinaldo no governo, nós éramos atacados, diariamente, por eles e o Maranhão foi o campeão em assentamentos do país pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário, o segundo estado do Nordeste em número de financiamentos para pequenos agricultores. E hoje? O governo de Roseana Sarney cortou 40% da verba destinada à agricultura em um estado em que quase a metade da população vive na zona rural.

Veja só: primeiro diziam na propaganda deles que “governar é cuidar das pessoas”. E enquanto isso, a população sofrendo no interior do estado por falta de assistência. Agora a propaganda diz “o novo governo do Maranhão”. Novo? Como assim? É a terceira vez que Roseana é governadora do Estado e há mais de 40 anos o pai dela está no poder. Ela declarou, numa entrevista coletiva, na semana passada, que essa era a última eleição dela. Uma pessoa me contou que ela só falou isso porque a pesquisa qualitativa encomendada pelo pessoal da campanha dela demonstrou que o povo já está cansado de tanto domínio da Família Sarney.

Então, existe hoje no Maranhão um sentimento que chega a ser mais forte do que a indignação, é raiva mesmo. As pessoas estão revoltadas. A população não tolera mais ter a sua inteligência subestimada. Será que eles ainda não sabem que não é com propaganda que se governa?

JP – A senhora e o ex-governador José Reinaldo foram duramente atacados pela mídia do grupo Sarney, que chegou a lhe atribuir adjetivos como “oportunista”, “deslumbrada com o poder”. O que mudou na sua vida com esse achincalhe todo, mesmo agora depois de alguns anos?

Alexandra – Veja que contradição. Eles dizem que eu sou oportunista. Se fosse mesmo, não teria rompido com a família Sarney, nem me separaria de um governador de Estado. Se fosse, eu teria usufruído de todas as benesses. Eles diziam nos jornais deles que eu era uma suburbana, nascida no Gama. Graças a Deus eu nasci suburbana, senão seria uma Roseana ou um Sarney!

Eu guardo até hoje um editorial do jornal deles que, na época, dizia assim: “Muitos hoje perguntam: não fosse Sarney, onde estaria José Reinaldo hoje? Provavelmente estaria aposentado, numa casa de conjunto, vivendo uma vida medíocre”. Para eles, quem mora no Cohatrac, na Cohab, em conjuntos habitacionais, vive uma vida medíocre. Portanto, as ofensas a mim dirigidas e a José Reinaldo só mostram os preconceitos que eles têm contra as classes menos favorecidas.

O que mudou é que cada calúnia a mim dirigida só me fez mais forte, com mais vontade de colaborar para mudar essa situação vergonhosa do Maranhão, de ser um estado atrasado, pobre, mesmo rico em recursos naturais. Mas hoje eu percebo que valeu a pena o sacrifício porque as pessoas não acreditam mais nas mentiras fabricadas por eles. Eu fico feliz em ver que as pessoas aqui estão tendo discernimento.

JP – Foi durante a sua gestão como secretária de Solidariedade que foi organizada a Parada Gay. Como surgiu essa ideia?

Alexandra – Pela primeira vez, um governo no Maranhão disse “não” ao preconceito, pediu respeito e trabalhou pela defesa dos direitos dos homossexuais. Enquanto os governos e prefeituras da maioria dos estados brasileiros já debatiam os assuntos relacionados aos direitos dos homossexuais, aqui o Poder Público nem sequer dava atenção à questão. Hoje, por exemplo, a Parada Gay de São Paulo é o segundo maior evento da cidade e a maior do mundo.

O Maranhão precisa sair desse passado de preconceitos, precisa sair da época de Ana Jansen. Eu tenho o maior orgulho de ter incentivado esse movimento e se hoje a Parada Gay já está incluída no calendário oficial de São Luís, foi graças ao empenho de uma equipe de técnicos competentes do governo José Reinaldo, juntos aos movimentos, com nosso apoio total.

Na Parada Gay de 2006, foi sancionada a lei estadual que assegura ao companheiro ou companheira homossexual, de funcionário do estado, o direito à pensão por morte do parceiro (a). São direitos sociais que precisam ser assegurados. Não se pode admitir que os homossexuais, em pleno século XXI ainda sejam tratados com chacota. Ser gay não é ser pervertido.

JP – A senhora acredita que o grupo Sarney sofrerá nova derrota em 2010, a exemplo de 2006?

Alexandra – Claro, há grandes chances para isso. Apesar de que eles vão fazer de tudo para ludibriarem a população, pois não se conformam de terem ficado 40 anos no poder. Sarney há anos ilude a população dizendo “Maranhão, minha terra, minha paixão”. Mas que paixão é essa que condenou o Maranhão a ser o estado mais pobre do Brasil, durante tantas décadas? A própria Secretaria de Planejamento de Roseana divulgou um documento dizendo que a década de 90 foi uma “década perdida para o Maranhão”, quando a taxa global de crescimento caiu para 1,4%, ou seja, menos da metade da taxa de crescimento do Nordeste e inferior à do Brasil. E nessa década, quem estava no governo? Não era José Reinaldo, nem Jackson Lago. É por isso que eles se preocupam tanto em contratar marqueteiros, com pavor de sofrerem nova derrota, agora em 2010. Eu li até que Duda Mendonça costuma cobrar em torno de 15 milhões por cada eleição. Mas essa eleição vai ser emblemática, um divisor de águas para que seja feita a Justiça pelas próprias mãos do povo, não pelas mãos de quem quer que seja.

JP – A senhora não tem medo?

Alexandra – Se tivesse medo, não estaria aqui falando tudo isso que falo à imprensa. E tem mais: se todas essas denúncias forjadas por eles contra mim fossem verdade, eu já estaria presa. Creio, acima de tudo, na Justiça Divina. A população do Maranhão vai mostrar nas urnas que também não tem medo.

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