quarta-feira, 7 de abril de 2010

Tapetemania

Por José Reinaldo Tavares

A oligarquia Sarney resolveu afrontar o regime democrático. Eles preferem um regime em que os seus desejos são ordens, em que os adversários não podem ganhar e que a alternância no poder não é para valer e serve apenas como retórica. Para eles, no regime ideal, as eleições são apenas para manter a família no poder. É a Sarneylândia, como disse o humorista João Gordo, em São Luís.

Quando Roseana Sarney sofreu a sua primeira grande derrota nas eleições para governador, em 2006, Sarney imediatamente começou a tecer a teia que produziu a anomalia que foi a decisão do TSE. Foi aquele antológico escore, não me canso de repetir, que, por 4 votos a 3, cassou o governador Jackson Lago e colocou a perdedora, sua filha, no governo, em clara afronta à Constituição Brasileira.

Sarney já havia conseguido no Amapá cassar o casal Capiberibe. Ela, Janete, deputada federal, e ele, João, senador. E também lá os motivos foram pueris. Gostou demais e ficou viciado na vitória por meio do chamado "tapetão".

Hoje esse "recurso" ao alcance da família é usado à vontade com prefeitos e deputados adversários. É muito mais fácil que vencer eleições. A coisa está tão arraigada que não podem mais viver sem o tal 'tapetão'.

Agora, querem repetir a dose para impedir que Flávio Dino tenha o apoio do PT e tornar real o maior pesadelo de Roseana Sarney e de José Sarney: enfrentar o deputado do PCdoB em eleição para governador neste ano.

Compuseram uma história qualquer e partiram para constranger o presidente Lula e a direção nacional do Partido dos Trabalhadores com recursos sem consistência para tentar mudar o resultado do Encontro petista.

A desfaçatez é tamanha que seu próprio jornal, que publica coluna do jornalista Ilimar Franco, de O Globo, coloca, sob o título "Possesso", que o senador José Sarney, em seu leito de hospital, aguardando cirurgia de um tumor benigno na boca, furioso com o resultado do Encontro do PT que deu vitória a Flávio Dino, disparava freneticamente telefonemas para quem conseguisse achar, dizendo que não se conformava com o resultado, que sempre apoiou Lula e que aquilo era um desrespeito com ele.

Mandou Lobão e Temer falarem com Lula que o PMDB estava batendo tambores de guerra e que não aceitavam aquele resultado. Lula, tarimbado e cansado com a impertinência, apenas ouviu e nada prometeu. Naturalmente, em seguida Sarney acionou o seu grande amigo Zé Dirceu. E convenceu-o de que eu, como candidato a senador, obrigava-os a conviver comigo, que não parava de falar mal de Lula e do PT em meu blog, e que, além disso, era eleitor do Serra. E Dirceu se apressou em postar nota em seu blog, nesses termos, tentando influenciar a direção nacional, já que nada podia dizer de Flávio Dino, que está lá no parlamento defendendo o governo Lula todos os dias.

Respondi ao Zé Dirceu que primeiramente estava orgulhoso desse hipotético leitor do meu blog e depois dizendo que aquelas opiniões só eram possíveis porque elegeram Sarney como único interlocutor no estado, pessoa que é conhecida por tentar queimar adversários junto ao poder federal. Que eu era do PSB, partido da base do Lula, que tinha Ciro Gomes como pré-candidato e se este não confirmasse a candidatura, o apoio a Dilma era questão fechada nacionalmente no partido e que eu votaria nela, assim como Flávio Dino, que abriria um novo palanque para a candidata, muito melhor e vencedor do que o da oligarquia. Disse-lhe ainda que respeitassem a vitória do Flávio na Convenção. Foi uma vitória limpa e transparente, como atestou e aprovou o observador da direção nacional presente a toda a convenção. E que não compreendia essa atitude de hostilizar correligionários que em momento algum descumpriram as diretrizes nacionais para coligações aprovadas em convenção nacional. Para atender Sarney estão prejudicando a candidata Dilma.

Na verdade, a atuação do PMDB é um jogo de faz de contas, pois na Bahia não retiram a candidatura do ex-ministro Gedel Lima, que vai enfrentar a reeleição de Jaques Wagner do PT. Só não vale no Maranhão? E o mesmo deve ocorrer ainda no Rio Grande do Sul e no Pará, onde PMDB e PT vão se confrontar. Repito: só no Maranhão não pode?

Porém, na última quarta-feira em Brasília, os dirigentes do partido, como em coro afinado, afirmavam que nada mudava e que a decisão do partido no Maranhão seria respeitada e que fizeram tudo o que podiam. O próprio Lula, acompanhado por Dilma, foi duas vezes ao Maranhão ajudar Roseana Sarney e que assim mesmo ela perdeu. Portanto, página encerrada, e Dino seria o candidato apoiado pelo PT. Temer também informava que apenas pediu a Lula que ele precisava conversar com Sarney, que estava muito zangado, mas que não tinha como se meter, já que nem do PT era, e esse era assunto interno do partido. Todo mundo tirou o time de campo. O jogo estava jogado. Como o medo de Dino é muito grande eles ainda devem tentar atrapalhar, mas é difícil reverter a decisão local sem causar escândalo nacional com grande prejuízo para a Dilma.

Roseana Sarney ficou tão abalada que no dia seguinte à derrota no PT viajou cedo ao Rio de Janeiro para conversar com Duda Mendonça. Ela o quer para ser o marqueteiro de sua campanha. Correu em busca do homem mágico, para ela o único capaz de contornar a terrível rejeição da família e resolver o seu problema maior, que é a recusa da maioria do povo do Maranhão em dar-lhe o voto. Duda vai ter que dançar o "rebolation" para livrá-la das conseqüências de todos os desmandos da família e da truculência desses tapetões tão rejeitados pelo povo maranhense.

Na verdade, do que jeito que vai, nem Duda salva Roseana Sarney.

Enquanto isso, o governo vai deixando desalento em todos os setores. As loucuras da área da Saúde estão matando maranhenses, principalmente crianças. A governadora, como sempre, não quer nem saber, embora o fato tenha virado escândalo nacional. E, o pior, nesse caso, é que, logo que assumiu o governo, entrou na justiça para tomar o dinheiro conveniado com a prefeitura, adivinhem para quê? Exatamente para construir um hospital de referência, com muitos leitos de UTI neonatal. O hospital poderia já estar pronto, evitando, assim, essa calamidade inaceitável.

Quando o secretário falou que os números estavam errados, querendo se defender, levou uma forte reprimenda do jornalista Augusto Nunes, da Veja. O jornalista, revoltado, chamou a atenção de que não se tratava de números e sim de vidas humanas. Na região de Timon e Caxias, primeiro deixaram de mandar os recursos para a manutenção dos bem equipados hospitais da região e depois, quando a população voltou em massa a procurar os hospitais de Teresina, a secretaria de Saúde, como consequência, cortou a indenização pelo SUS dos atendimentos feitos no Piauí, deixando maranhenses pobres da região sem ter opções de atendimento de saúde naquela área. As autoridades dos municípios maranhenses da região e as do Piauí até hoje não conseguiram resolver o problema, pois não há interesse na secretaria de Saúde do Maranhão, que se recusa a tentar um acordo com as autoridades do vizinho estado.

E Roseana Sarney? Nem se mexe. A desorganização que ocorreu para a aplicação da vacina do H1N1 acabou por punir as pessoas que foram se vacinar. Perambulavam de posto de saúde em posto de saúde sem achar solução. E, enquanto isso, o helicóptero alugado por dispensa de licitação, por R$ 2 milhões, segundo o secretário para atender emergências de atendimento, só é visto levando políticos para atos políticos no interior. Só a omissão explica!

Para concluir, registro aqui o esforço que eles despendem tentando intrigar a oposição uns contra os outros. Vão precisar fazer muito mais do que isso para ganhar eleições no Maranhão.

Tem que trabalhar. Propaganda não vai resolver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário