Por Gerson Camarotti e Chico Gois
BRASÍLIA - Com o crescimento da petista Dilma Rousseff nas pesquisas sobre a disputa presidencial , o PT e o presidente Lula pretendem engrossar o discurso na relação com o PMDB, o aliado preferencial - pelo tempo na TV e pela estrutura país afora -, que até agora só cobrou faturas. Há forte clima de desconfiança entre os dois partidos, mas agora o próprio Lula, que vem se queixando há tempos da voracidade do PMDB, fala em enquadrar o aliado. A pesquisa Datafolha, que mostra a consolidação de Dilma com o eleitorado, será usada para tentar mudar parâmetros dessa relação.
Em conversas reservadas, Lula afirma que o PMDB passou do limite em cobranças para retirada de candidaturas de petistas nos estados. Até então, com Dilma em desvantagem, o presidente estava em silêncio. Agora, está disposto a convocar o PMDB e cobrar reciprocidade. Petistas próximos a Lula já verbalizam publicamente o novo tom do discurso.
- Estamos tratando o PMDB melhor do que estamos sendo tratados. Está desigual. O PMDB tem de saber o que quer. Não pode fazer exigência todo dia. Acho desequilibrada a aliança PT-PMDB, em desfavor do PT. Todo mundo adora um grau de fidelidade ao projeto, não só adesão, conveniência - disse o governador Jaques Wagner (PT-BA).
Num recente desabafo, Lula disse que o PMDB conseguiu tudo o que queria no governo, mas que não se mostra um aliado identificado com o projeto, e sim com pesquisas. O mesmo sentimento tomou conta do PT.
- Quando Dilma subiu nas pesquisas, os peemedebistas se apressaram para colocar o Temer (Michel) de vice. Se querem pagar para ver todas as vezes, é bom avisar que Lula vai mostrar força e, quando estiver em agosto ou setembro, vai se licenciar para estar ao lado da Dilma - diz o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), amigo do presidente.
Lula não gostou de o PMDB ter cancelado o encontro que deveria ocorrer em 15 de maio para sinalizar o apoio a Dilma - na ocasião, a petista estava atrás de Serra nas pesquisas.
No PT, o clima é de inconformismo com o sacrifício de petistas em vários estados em nome do apoio do PMDB a Dilma. Lula quer cobrar uma contrapartida nos estados, especialmente em São Paulo e no Rio Grande do Sul, onde o PMDB regional já sinalizou apoio ao tucano Serra.
Em São Paulo, o desconforto é maior, pois é o estado de Temer, que será vice de Dilma. Lula também não aceita a situação no Pará, onde o PMDB do deputado Jader Barbalho - com cargos importantes em estatais - resiste em fazer aliança para apoiar a governadora Ana Júlia Carepa (PT).
- Queremos uma aliança nacional. Assim que fechar (a aliança), vamos afinar a viola e cobrar do PMDB o apoio. Acabo de ler que o PMDB gaúcho vai apoiar Serra. Isso não pode acontecer! - diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra.
No Ceará, os peemedebistas trabalham para evitar a candidatura ao Senado do ex-ministro e deputado José Pimentel (PT-CE). Mas a Executiva Nacional do PT assumirá o desgaste da provável intervenção branca no Maranhão para forçar o partido a apoiar a reeleição da governadora Roseana Sarney (PMDB).
Os peemedebistas reclamam do PT, principalmente sobre o impasse em Minas, essencial para o acordo nacional. O PMDB de Minas quer o apoio do PT para eleger Hélio Costa governador.
- Ninguém deve ceder espaço quando está liderando nas pesquisas. O PMDB só tenta fazer acordos quando está na frente. Nunca pediu para o PT retirar candidatura na situação inversa. Tudo tem que ter lógica. Seria o mesmo de a gente querer que a Dilma seja o vice de Temer. Já que estamos num casamento fechado, é importante que haja gestos. Em nome da aliança nacional abrimos mão de muita coisa - diz o vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).
A subida de Dilma animou o governo. O presidente Lula evitou falar diretamente do assunto, mas disse, na inauguração da TV Brasil Internacional , nesta segunda:
- Não tem facilidade. As pessoas dificultam. Estou num momento da minha vida em que, quanto mais mal de mim falam, melhor para mim. Porque quando se mente demais, as pessoas descobrem que é mentira.
Assessor especial para assuntos internacionais da Presidência e um dos coordenadores da campanha de Dilma, Marco Aurélio Garcia avaliou que o crescimento da petista é reflexo de sua maior exposição , além do apoio de Lula:
- Não estavam dizendo que a Dilma estava muito exposta e gente criticando que ela tinha cometido gafes, trapalhadas etc.? Demonstra que não. A avaliação dos eleitores em relação ao desempenho dela é que foi muito bom. O peso do presidente é muito grande, mas é óbvio também que a exposição da Dilma como candidata funcionou muito para tocá-la para cima. Acho que os analistas vão quebrar a cara de novo.
Sobre o bom momento de Dilma, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse:
- Dilma está bonita, está demais! Quem olhar para a cara de um (Dilma) e para cara do outro (Serra) não tem dúvida: o outro é muito feio. Não tem muita sorte. Foi candidato contra o Lula quando o povo queria mudança (alusão à eleição de 2002). Agora é candidato contra Dilma quando o povo quer continuidade.
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