sexta-feira, 14 de maio de 2010

Filme sobre Sarney custou R$ 650 mil aos cofres públicos

Do blog do jornalista Fernando Rodrigues
 
Presidente da Eletrobrás, uma das patrocinadoras, foi indicado por Sarney em 2008

Ao gastar R$ 650 mil do dinheiro público para realizar o documentário “José Sarney, um nome na história”, a intenção da produtora FBL Criação e Produção era “preservar a memória” do país, segundo a diretora da empresa, Rozane Braga.

Com 70 minutos, o filme foi exibido pela TV Senado em 24.abr.2010, quando o presidente do Senado e ex-presidente da República, José Sarney (PMDB-AP), completou 80 anos. O vídeo alterna longo depoimento do próprio Sarney com falas menores de sua filha e governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB-MA), do senador Marco Maciel (DEM-PE), do poeta Ferreira Gullar e outros entrevistados.

A produção foi beneficiada pela Lei Rouanet de incentivo à cultura, informa o repórter do UOL Fábio Brandt. Seu custo equivale ao que a Eletrobrás, a Vale e a Nextel não pagaram em impostos por incentivar a realização da biografia audiovisual de Sarney. Desde 6.mar.2008, o presidente da estatal Eletrobrás é Antônio Muniz Lopes. Ele assumiu o cargo com apoio de Sarney (aqui, a relação de dirigentes da Eletrobrás).

O senador nega ter influenciado a obtenção do patrocínio. Sua assessoria de imprensa afirma que a FBL realizou o filme de forma independente e só escolheu biografar o congressista pela “importância política que ele tem na história recente do país”. Segundo a diretora da FBL, “colocar [o projeto do filme] na Lei e conseguir o patrocínio é responsabilidade da produtora. O presidente Sarney entrou de gaiato nessa história”.

Não é a 1ª vez que recursos da Eletrobrás são associados a Sarney. Reportagem publicada pela “Folha de S. Paulo” em 18.ago.2009 informou que o instituto Mirante, criado pelo empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney, recebeu R$ 250 mil da estatal. Na ocasião, a Polícia Federal desconfiava que o empresário usava a influência do pai para conseguir contratos para empresas privadas no setor de energia.

O Blog quis saber por que a TV Senado não produziu o filme já que possui estrutura e funcionários para tratar de assuntos relacionados aos senadores. O diretor da Secretaria de Comunicação do Senado, Fernando Cesar Mesquita, admitiu que a TV Senado poderia ter feito o documentário. “Mas não o fez no caso do presidente Sarney porque o Fernando [Barbosa Lima, proprietário já falecido da FBL] já o havia realizado sem ônus para o Senado”, justificou Mesquita, que foi porta-voz de Sarney durante sua gestão na Presidência da República (1985-1989).

Bastidores

Item da coleção “Os grandes brasileiros”, o filme sobre Sarney dá sequência ao de Tancredo Neves, conta Rozane. “Depois da morte do Tancredo vem a redemocratização e quem faz parte desse projeto chama-se ‘presidente José Sarney’. Ele foi fundamental na luta pela redemocratização”, diz.

A diretora da FBL diz que o filme sobre Sarney custou menos do que outros da série – que inclui Darcy Ribeiro, Ziraldo, Sérgio Cabral pai e Barbosa Lima Sobrinho. Mas ela não revela o preço desses outros documentários. Diz apenas que eles também receberam verba pública. “Não é necessário levantar isso para sua matéria”, argumenta. Segundo ela, a Eletrobrás já havia patrocinado a biografia de Darcy Ribeiro. “Ele já estava morto. Não acredito que tenha ligado pra Eletrobrás para pedir o patrocínio”.

As 1.250 cópias do filme foram distribuídas em gabinetes de congressistas, escolas, bibliotecas e para jornalistas. Mas o público-alvo do trabalho são estudantes, ressalva a diretora. “Nosso comprometimento é com essa coisa de melhorar o nível cultural do nosso povo”.

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