Brasília – Um grupo de quatro especialistas da Universidade de Brasília (UnB) encontrou uma lacuna na segurança das urnas eletrônicas, em teste promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os pesquisadores do Centro de Informática e do Departamento de Computação da UnB conseguiram decifrar códigos da urna e identificaram a ordem dos votos registrados no equipamento. Se o mesmo grupo tivesse em mãos os nomes dos eleitores que votaram na urna, em ordem cronológica, poderia indicar quem votou em que candidato.
Com a descoberta, o TSE foi obrigado a criar novos obstáculos para impedir que os dados da urna possam ser descriptografados. O mesmo grupo da UnB terá uma nova chance para desvendar o mistério. Para alcançar seu objetivo, os profissionais puderam visualizar por um curto período de tempo o código-fonte – a tradução do algoritmo -, que fica guardado no cofre do tribunal. O chefe do grupo, Diego de Freitas Aranha, professor do Departamento de Computação da UnB, disse que é impossível saber se conseguiriam quebrar o segredo caso não tivessem acesso à informação privilegiada.
- Isso facilitou a execução do teste. Nós conseguimos recuperar os votos em ordem, numa totalidade de 99,99%. O que isso significa? De posse dos votos, em ordem, e de uma lista de eleitores que precisa ser obtida de uma outra forma, em ordem, é possível você fazer a correspondência. Esse é o resultado do nosso teste – explicou Aranha.
A urna investigada estava carregada com a média de votos digitados, por equipamento, nas eleições gerais de 2010. O mesmo grupo demonstrou ao TSE como desembaralhou os votos e foi obrigado a apontar sugestões para fechar a porta do sistema.
- Faz parte do protocolo do teste os investigadores sugerirem alterações, correções, reparos. Se nossas sugestões forem adotadas, não deveria haver risco – completou o especialista.
O perito da Polícia Federal (PF) Thiago Cavalcante, que também participou do teste, reforçou que a ação dos colegas apontou uma vulnerabilidade no sistema. Mas pondera que o processo eleitoral tem uma série de etapas não relacionadas entre si, o que dificultaria, em tese, a quebra do sigilo.
- Por isso, o teste é bem-vindo. Justamente para corrigir problemas antes da eleição – afirmou o perito da PF.
Além da quebra do sigilo dos votos, outros grupos de hackers trabalharam, no mesmo teste, para fraudar as eleições, mas nenhum obteve êxito. Este foi o segundo “ataque” com especialistas em computação, que transformaram a urna em alvo eletrônico. Em 2009, outro pesquisador, com um rádio de pilha a cinco centímetros de distância do equipamento, venceu a disputa promovida pelo TSE. Ele distinguiu as ondas eletromagnéticas dos números 1 e 2. Um dos técnicos que supervisionaram o teste admitiu que os vencedores deste ano foram muito além.
O secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, informou que a descoberta, por si, garantiu o sucesso do teste, que durou seis dias. Ele informou que já providenciou o “reforço da rotina do algoritmo”, aumentando a complexidade da operação.
- A urna continua segura. Esta é uma iniciativa inédita no mundo, e o teste demonstra a competência da equipe. Assim que os ajustes estiverem concluídos, esse mesmo grupo será chamado para repetir o teste – assegurou Janino.
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