quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Lula diz que usou Sarney para ameaçar oposição


NA CRISE DO ‘MENSALÃO’
“Uma vez o Sarney foi conversar comigo e eu disse: ‘Sarney, eu só quero que o senhor diga lá dentro do Congresso o seguinte: se eles [oposição] tentarem dar um passo além da institucionalidade, eles não sabem o que vai acontecer neste país’”, discursou Lula em Estreito
A um mês de deixar o Planalto, o presidente Lula revelou na terça-feira (30) que, na crise do "mensalão", em 2005, ameaçou o Congresso Nacional dizendo-se "a encarnação do povo". Ele aproveitou um discurso de improviso durante visita ao canteiro de obras da usina hidrelétrica de Estreito, no Maranhão, para relatar encontros privados com o senador José Sarney (PMDB).
"Uma vez o Sarney foi conversar comigo e eu disse: Sarney, eu só quero que o senhor diga lá dentro (Congresso Nacional) o seguinte: Se eles [oposição] tentarem dar um passo além da institucionalidade, eles não sabem o que vai acontecer neste país", relatou.
"Este país teve presidente que foi embora, presidente que se matou ou foi cassado. Eles vão saber que eu sou diferente. Que não é o Lula que está na Presidência, mas a classe trabalhadora".
Lula confidenciou que tinha "muita dúvida" se teria condições de governar o país. "Este país já tinha criado as condições para o Getúlio Vargas se matar, não deixar o Juscelino assumir e cassou o João Goulart. Eu falei: o que eles vão aprontar comigo? E eles tentaram em 2005. Só que eles não sabiam que este país, pela primeira vez, tinha eleito um presidente que era a encarnação do povo, lá em Brasília."
No discurso atípico, Lula reconheceu que seus antecessores não tiveram as mesmas condições que ele ao assumir o comando do país. "Eu tenho consciência que outros presidentes não tiveram as mesmas condições que eu. O presidente Sarney pegou o Brasil em época de crise. O Fernando Henrique Cardoso, mesmo se quisesse fazer, não poderia, pois o Brasil estava atolado numa dívida com o FMI. Quando você deve, tem até medo de abrir a porta e o cobrador te pegar", disse Lula.
Obra - O presidente observou que a inauguração da usina de Estreito ficará para o próximo governo. "É a Dilma que virá inaugurar, mas eu tinha que vir para fechar a comporta, pelo menos", disse, lembrando que desmarcou três visitas à obra por causa de problemas nas áreas ambiental e social. Comunidades ribeirinhas denunciam que estão sendo prejudicadas pela construção.
O presidente afirmou que recentemente foi firmado um acordo entre o consórcio Estreito Energia, construtor do projeto, e o movimento de atingidos pelas barragens. Pelo acordo, a empresa se responsabilizará por garantir a realocação das famílias e criar condições para que os pescadores continuem suas atividades.
(O Estado de S Paulo e Redação do JP)

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