Por José Reinaldo Tavares
O Conselho de Administração da Petrobras, em deliberação da semana passada que teve ampla repercussão na imprensa nacional, decidiu quais seriam os investimentos dos próximos anos da empresa. Com efeito, cortou fundo em um setor de negócios que nunca foi unanimidade na empresa: o de refinarias.
Na parte que interessa ao Maranhão, tivemos o “adiamento” da refinaria Premium de Bacabeira, que foi anunciada como o maior projeto da empresa e de maior prioridade. Agora vejam que faz parte do referido conselho o Ministro das Minas e Energia, o senador maranhense Edison Lobão, um dos maiores propagadores da refinaria. Exatamente o mesmo que na época da campanha eleitoral de 2010 argumentava serem torcedores contra o estado do Maranhão aqueles que alertavam que a história da refinaria estava mal contada e desfrutava de enormes lacunas.
Sem dúvidas, esta foi uma enorme derrota para o ministro, mandatário maior do setor de Minas e Energia, que comanda a Petrobras. Até hoje, quase uma semana depois, Lobão está mudo sobre esse assunto e não tentou sequer uma explicação e tampouco uma mensagem tranquilizadora aos maranhenses.
O presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, a bem da verdade, nunca escondeu de ninguém que as refinarias lançadas politicamente em 2010 não tinham consistência empresarial e nem financeira. Desta forma ocorreu quando, em depoimento em Comissão da Câmara Federal, Gabrielli assim respondeu a uma pergunta formulada pelo deputado Carlos Brandão no que se referia à data de início e de conclusão da já anunciada refinaria Premium do Maranhão: “Uma refinaria dessas é muito complexa e demanda muito tempo em elaboração de planos e projetos. Esses projetos levam vários anos para serem executados e a construção toma de oito a dez anos. Os projetos ainda serão contratados e não existem recursos alocados no orçamento da Petrobras para as refinarias”.
Gabrielli disse a verdade e eu publiquei um artigo que teve pronta reação da oligarquia. O mínimo que disseram foi que eu estava torcendo contra a vinda da refinaria por não querer uma vitória dessas quando Roseana Sarney governava. Em seguida, Lula e grande comitiva foram em caravana, com José Sarney e sua filha Roseana Sarney, além de secretários de Estado, um grande número de políticos do grupo, seguidos por um séquito imenso de jornalistas, até o município de Bacabeira, lugar escolhido para sediar a refinaria. Era época eleitoral e aquilo serviu para dar grande impulso às candidaturas majoritárias de Roseana, Edison Lobão e João Alberto. Duda Mendonça deitou e rolou, promovendo peças publicitárias que exaltavam o feito. O Maranhão mudava e a partir daí era outro estado. E diziam: não venham de novo com essa história de péssimos indicadores sociais, pois Roseana chegava trazendo uma fase de progresso nunca visto… Essa era a base da mensagem que se esforçavam para difundir e que tinha como peça principal uma enorme locomotiva em desabalada carreira rumo ao progresso...
Depois da eleição, nada mais acontecia e nem o muro que cercava o terreno – foi o primeiro a ser contratado- não andava, descobrindo-se que estava paralisado. Para desviar a atenção, veio a fase das reuniões no palácio, em que pomposamente foram divulgadas e entregues as licenças ambientais e outros documentos. Foram mais de dez, sempre seguidos de grandes matérias publicadas com grandes destaque, pois precisavam manter a chama acesa, embora todos vissem que nada acontecia em Bacabeira.
Agora eis que surge a notícia verdadeira: a refinaria Premium do Maranhão, a mais importante delas, foi adiada em sua primeira e segunda fases, postergando a conclusão e início de operação para 2020…
Se alguém for verificar os detalhes da notícia do adiamento, vai ver que as refinarias do Ceará e de Pernambuco sofreram poucas mudanças em seus cronogramas. Só a do Maranhão. Lá funcionam governos muitos populares, muito diferentes daqui. Eduardo Campos, governador de Pernambuco, em Recife, chega a inacreditáveis índices de aprovação que alcançam 91%!
A luta que Eduardo Campos travou para fazer a refinaria foi enorme. Mesmo sem chegarem os recursos financeiros acordados por Hugo Chávez, presidente da Venezuela, a Petrobras bancou tudo e hoje a construção chegou a um ponto irreversível e sem retorno. Lá não foi apenas uma promessa de campanha política e uma mera peça de propaganda. Ao contrário, Campos tem uma liderança de grande prestígio político no Brasil, que tirou Pernambuco do marasmo em que estava, ou seja, bem atrás da Bahia e vendo o Ceará quase ultrapassá-lo em índices de desenvolvimento. Ele transformou Recife em uma grande metrópole e explorou ao máximo as potencialidades do estado, criando grandes polos de desenvolvimento no interior, num dos quais está o porto de Suape, um dos mais dinâmicos do país.
Aqui é diferente, pois o governo pensa que basta ter força política no governo federal para que todo o resto caia do céu. E o mais terrível é que pensam que propagandas bem feitas tem o dom de mudar a realidade de pobreza e abandono em que vive a população maranhense. Empresas que haviam procurado o estado antes de Roseana assumir o governo podem vir realmente construir empreendimentos aqui, mas sem um projeto estratégico de desenvolvimento. Isto é, eles apenas repetirão o que aconteceu com a vinda da Vale e da Usimar para o Maranhão, resultando em pequeno impacto econômico e social. É ilusão pensar que sem resolver problemas fundamentais, como preparação de mão de obra, educação de qualidade, oferta de saúde eficiente, e tantas coisas mais, pode-se esperar grandes mudanças decorrentes de projetos isolados.
Depositar toda a esperança de mudança em torno de uma refinaria que nunca teve unanimidade dentro da própria Petrobras é de um primarismo cruel. Não traz certezas e nem esperança de que algo vai mudar.
Principalmente com a governadora tão cansada, como ela mesma disse estar, num raro rasgo de sinceridade…
Saudades desse grande, lúcido e corajoso jornalista J. Canavieira. Faz muita falta. Não estava em São Luís e também não estarei na missa de sétimo dia. Abraços a toda a família.
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