quarta-feira, 24 de novembro de 2010

CÂNDIDO LIMA FALA DE COMPRA DE VOTOS NAS ELEIÇÕES DE 2010


Entrevista concedida a Robert Lobato


“Enquanto Dr. Jackson Lago tiver liderança e força de comando, o PDT não integrará a base de apoio da governadora Rosena Sarney”




O secretário geral do PDT e ex-coordenador da campanha de Jackson Lago, economista Cândido Lima (foto), concedeu entrevista ao blog onde faz uma avaliação do processo eleitoral de 2010.



O pedetista falou ainda da situação atual do PDT e os planos do partido para as eleições de 2012, bem como da reorganização do comando da legenda no Maranhão e do papel do ex-governador Jackson Lago na condução do partido que ajudou à fundar ao lado de Leonel Brizola.



Formado em Economia pela USP, Cândido Lima é ex-Presidente do Conselho Regional de Economia do Maranhão e ex-diretor da TELMA.Foi ainda fundador estadual do PSDB e há 10 anos está no PDT. Coordenou as campanhas de Jackson Lago a governador em 2002, 2006 e 2010. Foi ainda secretário-adjunto da Casa Civil e depois da secretaria de Educação . Atualment é secretário geral PDT e tem assessorado o presidente estadual do partido, Jackson Lago, no trabalho de reconstrução do partido no Estado.



Como o senhor avalia o processo eleitoral de 2010 para governo do Estado?

Cândido Lima: O processo eleitoral de 2010 apresentou uma configuração diferente dos pleitos anteriores. Neste contexto destaca-se a aliança do PT com o PMDB. Em principio não se imaginava que o PT fosse se aliar com PMDB da Roseana Sarney. Esta aliança enfraqueceu a candidatura Flavio Dino, pois além de não contar com o tempo de televisão do PT, também não teve um forte apoio da sua militância. Além disso, não pôde explorar na campanha as suas relações com o Presidente Lula e com a candidata Dilma Rousseff, como fez na campanha de prefeito. A parte da militância que o acompanhou o fez de maneira tímida e sem a garra característica da militância petista. Por outro lado o Dr. Jackson Lago concorreu subjudice. A decisão do TRE/MA que deferiu o registro da sua candidatura, contribuiu para que ele mantivesse uma fatia do eleitorado, em torno de 26%, ficando Flavio Dino em torno dos 19%. Com os demais candidatos garantiria a realização do segundo turno com a presença do Dr. Jackson Lago na disputa. Depois que o STF analisou o caso Roriz sem decidir sobre a aplicabilidade da lei da Ficha Lima o eleitorado passou a acreditar que a candidatura Jackson Lago não seria mantida e resolveu migrar para a candidatura do deputado Flavio Dino. Neste intervalo da sessão do STF e a eleição houve uma intensa campanha de desestabilização da candidatura do Dr. Jackson Lago, inclusive com a utilização de carros de som no interior do Estado. O TSE decidiu pelo deferimento do registro da nossa candidatura no último dia de propaganda eleitoral no rádio e na TV, de modo que não tivemos tempo de informar ao eleitorado sobre a confirmação da candidatura. Mesmo assim, o reconhecimento da Justiça Eleitoral de que o Dr. Jackson Lago não se enquadrava na Lei da Ficha Lima representou uma vitória, pois na verdade reconheceu que ele não teria cometido os crimes que a mesma Justiça Eleitoral alegou para justificar a cassação do seu diploma de governador.



O que justifica o resultado eleitoral pífio obtido pelo candidato Jackson Lago, principalmente em São Luis?

Parte da resposta a esta pergunta já foi dada na pergunta anterior, principalmente para o interior do Estado com exceção da região tocantina e algumas outras cidades. Nestas localidades a população estava disposta a votar no Dr. Jackson Lago. Não acreditou na propaganda negativa feita para desestruturar sua candidatura, pois sua liderança nessas cidades é muito forte. Quanto à São Luis, a meu ver, teve como conseqüência inicial a divisão interna do PDT, o afastamento do prefeito Tadeu Palácio do então governador Jackson Lago foi a principal causa [aqui há controvérsias, pois tem quem diga que foi o PDT e governador Jackson Lago que se afastaram do prefeito Tadeu Palácio para não fortalecê-lo]. A partir daí não teve continuidade o trabalho conjunto em prol de São Luis que era pregado nos palanques. E mais tarde a divisão interna ganhou as ruas com a disputa pela candidatura a prefeito de São Luis, ganhando na Convenção do PDT a chapa apoiada pelo prefeito Tadeu Palácio, liderada pelo ex-deputado Clodomir Paz. Por outro lado, as ações do governo na capital se concentraram no Projeto Rio Anil, um projeto grandioso mas que a população não tomou conhecimento, pois o governo não tinha uma política de comunicação objetiva. Daí, a meu ver, o fraco desempenho da eleição em São Luis, associado a um forte esquema de compra de votos, através de pequenas lideranças de bairros cooptadas pelo governo do Estado. Na verdade esse esquema de compra de votos foi tão forte que o Estado está quebrado. O Governo Jackson Lago estava executando um projeto de obras muito intenso e de apoio a serviços na are a social como saúde e educação, com a construção de 173 escolas em dois anos. Quando o Dr. Jackson Lago foi tirado do Governo, deixou em caixa R$ 560.000.000,00. Ela tomou de volta dos Prefeitos mais de R$ 450.000.000,00. Pediu autorização a Assembléia, e esta autorizou, a contratação de empréstimos em torno de R$ 1.000.000.000,00. E agora diz que o Estado está quebrado. Demitindo servidor, atrasando pagamentos, paralisando serviços essenciais e dizendo que pode atrasar até salários. Aonde foi aplicado esse dinheiro? Ninguém sabe, ninguém viu.



Em algum momento você achou que o Dr. Jackson Lago poderia ser derrotado pelo candidato Flavio Dino, principalmente em São Luis?

Em São Luis esperávamos que o Deputado Flavio Dino fosse ter uma votação maior do que realmente teve, pelo fato de ter disputado a prefeitura em 2008. Agora no Estado todo, confesso que não acreditava que isso fosse acontecer. Mas só aconteceu porque o Dr. Jackson concorreu subjudice. As pessoas falavam, olha o Dr. Jackson era governador e tomaram seu mandato. Agora ele é só candidato e sua candidatura ainda não foi, sequer registrada. Era a grande dúvida das pessoas. Somente depois daquela sessão do STF que as pesquisas começaram a indicar a possibilidade do Deputado Flavio Dino ir para o segundo turno.



O PDT já fez uma avaliação do processo eleitoral?

O partido como um todo ainda não fez uma avaliação do processo eleitoral. Esta avaliação deverá acontecer com o retorno do dr. Jackson Lago a São Luis, que ainda não tem uma data definida. A avaliação tem sido feita setorialmente.



Mas o partido saiu enfraquecido das eleições…

É verdade que o nosso partido saiu enfraquecido, principalmente pelo fato de não termos elegido nenhum Deputado Federal. Mas no plano Estadual fizemos uma boa bancada. Foram eleitos quatro Deputados Estaduais que de fato comungam com as diretrizes do Partido e isto vai favorecer o nosso trabalho de reconstrução da base.



Qual será o papel do Dr. Jackson Lago na condução do PDT daqui para frente?

O Dr. Jackson Lago tem sido e continuará sendo o grande líder do PDT no Maranhão. Ele vai liderar a reconstrução do partido. Depois do resultado destas eleições, de ter administrado a Prefeitura de São Luis por vários anos e chegado ao governo do Estado, há necessidade de uma reformulação interna com a inclusão de novas lideranças no comando partidário. E não há motivo para deixarmos de reconhecer nele a grande liderança que exerceu e ainda exerce e exercerá sobre no PDT. Entretanto, temos conversado sobre a necessidade de promover algumas mudanças no comando partidário, no que ele tem concordado. Assim, estão sendo chamados para integrar o núcleo decisório os deputados estaduais eleitos e lideranças importantes que até então não integravam esse núcleo. Posso citar aqui, além dos deputados estaduais eleitos, lideranças como o Prefeito Deoclides Macedo, de Porto Franco, que foi candidato a Vice-Governador com o Dr. Jackson Lago em 2002; ex-deputado Deusdete Sampaio; ex-prefeito de Codó Biné Figueiredo; prefeito Hilton Gonçalo de Santa Rita; prefeita Silvana, de Morros, entre outras lideranças importantes filiadas ao nosso Partido. Todas as decisões deverão ser tomadas ouvindo os companheiros integrantes desse novo núcleo de comando. E de acordo com a complexidade do problema a ser resolvido vamos ampliando o universo a ser consultado. Os novos rumos do PDT passam por essa nova configuração de comando e do processo decisório, mas respeitando a liderança inconteste do Dr. Jackson Lago no Estado e sua força dentro do Partido.



Comenta-se que parte do PDT poderá passar para a base de apoio da governadora Roseana Sarney. Como você avalia essa possibilidade?

Enquanto Dr. Jackson Lago tiver liderança e força de comando, o PDT não integrará a base de apoio da governadora. Agora é fato que parte do PDT, principalmente prefeitos que já apoiaram a candidatura dela, pretendam participar do governo que eles ajudaram a eleger e até contribuíram com a fraude eleitoral organizada pelo governo para ganhar a eleição. Essas situações serão analisadas caso a caso para decidir como fica a relação desses prefeitos com o Partido. Entretanto não vai haver expulsões. Serão chamados para conversar e orientados a deixar o PDT em alguns casos. Em outro pode haver repactuação de compromissos e permanecer no partido. O que vai acontecer daqui para frente é que o PDT não vai mais permitir que um prefeito, um vereador, um dirigente apóie uma candidatura diferente da orientação partidária. Iremos aplicar o principio da fidelidade, quando acontecer situações dessa natureza em eleições futuras. Nós tomamos todas as providências para punirmos os infiéis já nesta eleição, mas as condições políticas do PDT no estado não permitiram que tomássemos tal atitude.



Como ficará a situação de prefeitos ou de deputados eleitos que vierem a se alinhar ao governo Roseana Sarney, como por exemplo, o Prefeito Humberto Coutinho?

Parte desta pergunta já está respondida na pergunta anterior, no que diz respeito aos Prefeitos. Quanto aos Deputados estamos conversando sobre uma forma de atuação conjunta na Assembléia Legislativa, mantendo nossa postura de partido de oposição consequente, mas discutindo os projetos que forem, de fato de interesse do Maranhão. Aliás, a governadora fez a maioria na Assembléia e não tem interesse de ter o PDT na sua base, a não ser se for para desmoralizar o partido e a liderança do Dr. Jackson Lago.



O Deputado Julião Amin cobra por espaço no governo federal por ter apoiado solitariamente a candidatura petista de Dilma Rousseff. Você concorda com a posição do Deputado?

O Deputado Julião Amin é um grande quadro do partido. Eu só não concordo com o apoio solitário que você menciona. Pois muitos companheiros do PDT apoiaram a candidatura da Dilma Rousseff, principalmente os prefeitos. Entretanto, além dos vários mandatos que ele já exerceu e ainda exerce, ele também já exerceu cargos importantes no Maranhão. Foi diretor do Banco do Estado do Maranhão e foi presidente do Sindicato dos Bancários. Nós que estivemos em outro palanque presidencial não vamos pedir nada para a presidente Dilma, mas se o deputado precisar do nosso apoio para o pleito ele terá. Até porque a direção estadual entende que a direção nacional foi compreensiva conosco ao admitir esta divergência em virtude dos fatos anteriores que aconteceram com o Dr. Jackson Lago, mas oportunamente nos reuniremos com ela para agradecer o apoio que nos deu nessa questão específica do Maranhão. A partir do próximo ano vamos seguir a orientação da direção nacional em suas decisões políticas, sem afetar a nossa postura de oposição ao grupo Sarney.



O PDT terá candidatura própria em cidades como São Luis, Imperatriz ou permanecerá aliados ao PSDB?



O trabalho de reconstrução do Partido exige que se lance candidatura própria em todos os municípios onde o partido estiver organizado. Esta é a regra geral. Entretanto, há situações que precisam ser analisadas ou consideradas. Ainda é muito cedo para definição de alianças, pois esse assunto só deve ser pautado a partir de 30 de setembro de 2011, prazo de encerramento das filiações partidárias para quem vai concorrer nas eleições de 2012. No caso de São Luis tem havido manifestação de companheiros no sentido do lançamento de candidatura própria. Inclusive alguns postulantes já se manifestaram interessados em concorrer ao cargo de Prefeito de São Luis.

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