Peregrinos muçulmanos rezam na Serra da Misericórdia em Arafat perto de Meca, Arábia Saudita
A grande peregrinação de fiéis muçulmanos à cidade de Meca, tradição anual conhecida como hajj, celebra seu grande momento neste sábado entre ritos e orações, marcado neste ano pelas conquistas e ideais da Primavera Árabe e pela crise diplomática entre Arábia Saudita e Irã.
Este é o primeiro hajj após a eclosão das revoltas, manifestações e revoluções que transformaram o panorama político no Egito, Tunísia e Líbia e que ainda são alvo de repressão das autoridades na Síria, Bahrein e Iêmen.
Até o momento, os pedidos de calma e de introspecção feitos pelas autoridades sauditas parecem ter sido ouvidos pelos peregrinos. Não houve ainda incidentes registrados durante o hajj --tradição que todo muçulmano deve cumprir pelo menos uma vez na vida, um dos cinco pilares do islã.
O recém-nomeado príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Naif bin Abdul Aziz, que também é ministro do Interior do país, pediu a todos os fiéis que esqueçam as questões políticas e se concentrem apenas na dimensão religiosa do evento.
"Confiamos nos fiéis da Casa de Deus (a Grande Mesquita de Meca). Sua visita para cumprir com este sagrado mandamento os obriga a esquecer esses assuntos", destacou o príncipe em entrevista coletiva nesta semana.
Em alusão aos levantes nos países vizinhos, o príncipe Nayef preferiu se manter imparcial. "O que acontece em alguns países irmãos (árabes) é assunto interno".
Ao falar da Arábia Saudita, que viveu protestos esporádicos, ele se mostrou otimista: "A realidade confirmou a comunhão que existe entre o povo e o Governo sauditas".
As autoridades do país sempre acusaram o Irã de forma tácita pelos protestos que várias vezes resultaram em distúrbios, realizados por parte da minoria xiita no leste do reino árabe.
| Amel Pain/Efe | |
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Milhares de fiéis muçulmanos rezam ao redor da rocha sagrada Kaaba, no primeiro dia de peregrinação a Meca |
Como acontece com frequência durante o hajj, clérigos xiitas iranianos convocaram grandes manifestações na região, mas o Governo saudita advertiu que está preparado para enfrentar qualquer eventualidade.
Em sua entrevista coletiva desta semana, o príncipe e ministro do Interior saudita, que também preside a Comissão Suprema da Peregrinação, disse acreditar que nenhum incidente aconteceria durante a peregrinação. "Não podemos adivinhar o futuro, mas estamos preparados para tudo".
Não é a primeira que autoridades religiosas iranianas incitam à realização de manifestações durante a peregrinação. O mesmo ocorreu nos hajj de 2006 e 2009.
Já em 1987, Meca foi palco dos piores distúrbios entre policiais e fiéis xiitas, que causaram a morte de 400 policiais e peregrinos, entre eles um total de 275 iranianos.
Neste ano, o hajj vem precedido da tensão diplomática entre Arábia Saudita e Irã semanas após o Governo dos Estados Unidos acusar o regime de Teerã de planejar um atentado terrorista para matar o embaixador saudita em Washington, Adel al Jubeir.
O príncipe Nayef negou que as medidas de segurança estejam vinculadas a essa crise. "Os iranianos sempre reiteraram seu respeito pela peregrinação".
O Ministério de Assuntos Islâmicos saudita lançou uma campanha nas redes sociais para conscientizar os peregrinos sobre a necessidade de respeitar os lugares santos e de não desonrá-los com palavras de ordem políticas ou manifestações que desviem o significado da peregrinação.
"É uma heresia utilizar a peregrinação com objetivos políticos e não há nenhuma evidência de que isso acontecia na história do islã", assinalou o titular da pasta de Assuntos Islâmicos, Abdel Menem al-Meshuh.
As forças de segurança sauditas anunciaram a mobilização de 63 mil soldados para o evento, entre eles, 16 unidades especializadas no controle de aglomerações e 150 especialistas na desativação de explosivos.
Para este sábado, os fiéis esperam o sermão do mufti da Arábia Saudita, um dos momentos de auge da peregrinação, na qual os peregrinos deverão completar o caminho entre Meca e o Monte Arafat, onde o Profeta Maomé teria pronunciado seu último sermão.
No Monte Arafat, uma colina de rocha de 70 metros de altura, os peregrinos purificam seus pecados e cumprem um dos rituais mais importantes do hajj.
Vestidos com o "ihram", um traje de duas peças de tela branca sem costuras, os peregrinos recitam constantemente frases de louvor a Deus, entre as quais predomina "Labbayk Allahumma Labbayk" (Estou aqui, ó Senhor).
Após o pôr do sol, os fiéis se deslocarão à localidade vizinha de Muzdalifah, onde no domingo cumprirão o ritual de apedrejamento de três colunas que simbolizam as tentações do demônio. Depois, seguirão à Caaba em Meca para dar sete voltas a seu redor. |
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