O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou na última semana os resultados do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Apesar de alguns questionamentos visando aperfeiçoar a metodologia do indicador, o IDH é hoje a principal referência mundial sobre o bem estar das populações em cada país.
Entre 2010 e 2011, o avanço de nosso país foi de uma posição: de 85º para 84º, numa escala que inclui 187 países. Pequeno mas representativo crescimento. Esta uma posição a mais nos coloca, pela primeira vez, no grupo dos países com desenvolvimento social 'elevado', segundo os conceitos do Pnud.
É um resultado claro das acertadas políticas sociais da última década, especialmente dos governos Lula e Dilma. Os avanços de nossos sistemas de saúde e educação, além do ganho de renda de praticamente toda a população, foram os motivos desse pequeno, contudo importante avanço de posições do Brasil no ranking.
No entanto, é triste constatar que, apesar desses êxitos, o país poderia galgar posições muito mais representativas, não fosse a desigualdade de renda, tanto social quanto regional. Esse critério faz com que o IDH geral do Brasil ficasse atrás de muitos dos nossos vizinhos latino-americanos, como Argentina, Chile, Uruguai e Cuba.
Pior: por um novo cálculo do Pnud, o IDH Ajustado à Desigualdade (Idhad), em que são aplicados à média nacional o nível de disparidade do país, nosso IDH cairia de 0,718 para 0,519. Resultado próximo ao de países como Suriname.
Por isso, mesmo reconhecendo os grandes avanços dos últimos anos, a maior coerência e respeito que podemos ter com essa herança é lutar por mais desenvolvimento, o que exige ampliar as políticas de distribuição de renda como único caminho, abrangendo não só políticas compensatórias mas sobretudo reformas estruturais que alterem os critérios de uso e partilha da riqueza socialmente produzida.
A situação do nosso Maranhão, infelizmente, continua um capítulo especialmente negativo nessa história, como mostra levantamento da Federação de Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), com base nos dados do IDH, também divulgado na última semana. O pior índice de desenvolvimento do Brasil fica novamente com um município maranhense. Dos dez municípios com menor desenvolvimento do país simplesmente metade deles fica no Maranhão.
O resultado negativo não é uma situação restrita a pequenos municípios de nosso estado. A capital São Luís teve queda de 6,7% em seu índice de desenvolvimento, caindo da 12ª para a 23ª posição entre 26 capitais analisadas.
Há mais o que lamentar: de nossos 217 municípios maranhenses, 94 deles estão entre as 500 cidades brasileiras com pior desenvolvimento humano do Brasil. Ou seja, quase metade de nossas cidades figura na pior faixa do IDH nacional.
Existem muitas explicações para essa situação. Os números apontam que, além da desigualdade de renda, é a situação da saúde o que faz pender para baixo o desenvolvimento do Maranhão. Dos 500 piores indicadores de saúde do Brasil, 84 são de municípios maranhenses (38,7% de nosso estado). Triste situação que nos indigna, pois atrás da aparente frieza dos números estão mortes, dores e lágrimas.
Alguém mais cético poderia alegar que esse quadro é aquilo a que todo o Nordeste brasileiro está condenado há séculos no Brasil. Mas não. Nesta última pesquisa, dos nove estados nordestinos, apenas dois não tiveram melhora de IDH: Rio Grande do Norte e Maranhão.
Com esse resultado lamentável e a melhora do IDH de outros estados nordestinos – como Bahia (+4,3%) e Ceará (+5,4%) – o Maranhão caiu de 21º para 24º na lista geral do IDH nacional. Foi ultrapassado no ranking nacional por Acre e Roraima, dois estados que teoricamente teriam menos condições de gerar riquezas e, portanto, de garantir o bem-estar de sua população.
O que faz um estado tão rico como o Maranhão conviver com índices tão alarmantes? A causa dessa situação não pode ser econômica, afinal nosso país segue crescendo a taxas satisfatórias para o atual cenário mundial. Como sabemos, a causa é política: a falta de dinamismo e de capacidade empreendedora típica das práticas oligárquicas de décadas impede o nosso desenvolvimento. Mas isso vai mudar. É apenas uma questão de tempo.
Flavio Dino, 43 anos, é presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), foi deputado federal e juiz federal
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