Nos acostumamos a ver os esforços repetidos do senador José Sarney, a fim de tentar criar uma explicação convincente para a terrível situação do Maranhão, expressada nos piores indicadores socioeconômicos do Brasil. Nenhuma unidade da federação apresenta indicadores tão ruins, mostrando que a realidade do estado é de pobreza, de carência de ausência de infraestrutura social básica para a população. É um dos estados mais abandonados pelo poder público.
Sarney já tentou de tudo, desde justificar o atraso com imaginária indolência do povo – esta justificativa de tão sem sentido foi até mesmo abandonada – e, como não pode lançar mão de secas catastróficas, geadas, terremotos, tsunamis e outras calamidades do mesmo porte, porque inexistem aqui, ele se concentrou ultimamente em acusar a oposição de inventar dados que seriam fictícios sobre os indicadores sociais negativos do Maranhão. O que Sarney negligencia, no entanto, é que tais dados são todos oriundos do IBGE, Ipea, Enem, Saeb, instituições que, embora públicas, estão acima do jogo político, seja ele nacional ou estadual.A pobreza que teimam em não reconhecer é afrontosa, basta ir à periferia das cidades maiores ou às próprias cidades menores do interior.
O único período em que isso mudou foi quando governei o estado, seguido por Jackson, até este ser sacado do poder por um golpe de estado jurídico. O Ipea enviou técnicos a São Luís para informarem essa boa nova em seminário, evento ao qual Roseana fez questão de não mandar representantes. Então, isso significa que há um modelo bem-sucedido que o atual governo abandonou totalmente. E não será cortando recursos do programa de combate a mortalidade infantil, tal como a governadora acabou de fazer, que vai mudar a calamidade que está em curso com a completa inoperância do governo.
Em entrevista recente, José Sarney disse que isso não se faz. Que esses dados inventados pela oposição causam grande prejuízo à imagem do estado, afugentando turistas etc. etc.
Na verdade, o que ele quer mesmo dizer é que isto acarreta nada mais que a destruição da imagem que ele se empenhou em construir de benfeitor de um estado desenvolvido, bonito, uma ilha de prosperidade digna de admiração, com crescimento chinês, em que a população é muito feliz, onde não há fome e com emprego e oportunidades fartos. Tudo graças a Sarney e família.
Ele não pode se conformar com a verdade dos números, porque foi presidente da República, governador, presidente do Senado por três vezes, manda-chuva da nação, prestígio político incontrastável em todos os governos do país e domínio total do estado por quase cinco décadas. E ainda assim o resultado para a população não podia ser pior. O domínio da família Sarney só trouxe pobreza ao povo e riqueza e poder à família e também à oligarquia que ele chefia com braço de ferro.
Tudo isso em contraste a Antônio Carlos Magalhães que, mesmo sem ter sido presidente, transformou a Bahia, seu estado, usando todo o seu prestígio e sua luta para desenvolver aquela terra que no passado era muito semelhante ao Maranhão na pobreza e no atraso.
Sarney não pode negar sua grande influência no Maranhão, nunca igualada por ninguém. Mais de cem prédios públicos com nome da família, domínio completo de todas as instituições maranhenses, incontáveis pontes e monumentos com seu nome e da família demonstram a todos que o Maranhão tem “dono” e que esse dono é Sarney. O Maranhão se confunde com Sarney, para o bem ou para o mal.
Preocupado com a sua imagem perante a História, ele se esmera em preparar e encomendar filmes e biografias contando a história que ele gostaria que todos assimilassem e que no futuro esses livros pudessem ser aceitos como a verdade histórica do que foi.
Puro engano, um grande equívoco, na verdade. E o pior é que ele sabe disso. Sabe também que a sua biografia, da qual ele não conseguirá se livrar, é o que o Maranhão é, o que ele legou ao estado. Por isso sua revolta e o seu esforço em tentar mudar a realidade com explicações que nunca poderão modificá-la.
A sua história é o Maranhão. É a realidade do Maranhão e de seu povo, é a sua grandeza ou sua pobreza, em comparação com outros estados do Nordeste e do Brasil. E isso não há livro de biografia que mude.
A tragédia da pobreza do estado é como Sarney será visto no futuro. Por isso o grande repúdio, que ele sabe muito bem que sofre da sociedade brasileira, indignada com a contradição entre seu poder absoluto e a miséria e a pobreza de seu estado natal, que ele sempre falou ser seu “torrão, sua paixão”.
É uma história que está inscrita como indelével marca em todas as instituições, edifícios públicos, pontes, colégios, como já disse. Não há como separar. De nada adianta produzir versões biográficas idílicas, Fundações para preservar sua memória, fazer artigos laudatórios, fazer discursos à favor, que pouco ou nada mudará.
Hoje, se pegamos um táxi em qualquer cidade do país, quando o motorista puxa conversa e pergunta de onde somos e a resposta é Maranhão, somos brindados com o subtítulo do estado: “a terra do Sarney”, frequentemente seguida de comentários pouco lisonjeiros. Não dá para mudar.
Sarney teve muitas oportunidades de mudar esse quadro, que nem é tão difícil assim mudar, como mostramos. No entanto, nunca se empenhou para fazê-lo, certo de que a sua poderosa máquina de propaganda era suficiente para mantê-los no poder. Não contava, porém, com o julgamento severo de todo o Brasil sobre isso.
E isso é algo que nem todo o poder pessoal de Sarney não consegue mudar. O poder do julgamento do povo brasileiro. E cada demonstração pública desse enorme poder só piora a imagem do ex-presidente.
O único problema é que o Maranhão vai junto…
Por fim, não há dúvidas de que Roseana Sarney se convenceu de que a refinaria da Petrobras não sairá. Se não fosse assim, por que motivo iria com José Dirceu a Caracas conversar com o presidente Venezuelano para que este construísse, sem a Petrobras, uma refinaria em São Luís? Mesmo sabendo que Chávez está inadimplente para com a Petrobras, pois não cumpriu a sua parte no financiamento da refinaria de Pernambuco? Mistério? Ou será que perdeu a paciência e acha que Lobão não conseguirá dar conta de construir o empreendimento e está só empurrando com a barriga?
Será que pode explicar?
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