José Lemos*
Neste dia 29 de maio, o nosso combativo e independente Jornal Pequeno (JP) completa sessenta (60) anos de inestimáveis serviços prestados às causas da livre informação, do debate plural de ideias, de resistência a todo tipo de opressão que a sofrida população maranhense experimenta durante todo este período, com rápidos lampejos de períodos de bonança.
Desde a sua fundação no começo dos anos cinquenta do século passado os maranhenses puderam acompanhar pela leitura diária desse matutino as mudanças experimentadas no Brasil, como aquelas do Governo Juscelino que culminaram com a fundação de Brasília em abril de 1962. Antes o JP já havia noticiado parte da era populista de Getúlio Vargas, que culminou com o seu suicídio em agosto de 1954.
Pelas páginas do JP, os maranhenses acompanharam a eleição de Jânio Quadros, e a sua extemporânea renuncia em agosto de 1962 que criou condições de instabilidade política que culminou com o golpe militar de abril de 1964, que mergulharia o País em 21 anos de retrocesso político, embora houvesse momentos de progresso econômico.
O JP também esteve na vanguarda cívica do movimento das “Diretas Já” que aconteceu em 1984 e que culminou com a rejeição por parte do Congresso Nacional, sempre liderado por forças reacionárias perfeitamente identificadas, algumas ainda hoje no cenário político brasileiro.
Os maranhenses acompanharam pela descrição concisa dos redatores do JP o calvário de Tancredo Neves, eleito indiretamente pelo famigerado Colégio Eleitoral, mas que encheu de esperanças o povo brasileiro, embora se soubesse que se tratava de um político conservador, matreiro, mas de forte espírito conciliador. A sua morte em 21 de abril de 1985 provocou consternação nacional, sobretudo em decorrência da solução encontrada para preenchimento do seu cargo que houvera ficado vago.
A inflação galopante já se fazia temerosa ao final do último governo militar de João Figueiredo quando chegou a 100% ao ano. Um câncer econômico que apenas não causava mais estragos porque havia o instrumento artificial da correção monetária. Mas quando se imaginava que havíamos chegado ao fundo do poço, em relação à inflação, o pior estava por vir com o chamado Governo da Nova Republica, na época fortemente execrado por um certo líder operário, então merecedor de toda a credibilidade de segmentos importantes (de um ponto de vista numérico) da Academia. Eu estava concluindo pós-graduação, me incluía naquele time que levava fé na nova liderança.
O descontrole fiscal, as benesses do Governo para poder se manter no poder, fizeram a inflação disparar. Seguiram-se uma serie de planos de estabilização monetária. Em 1986 foi lançado o Plano Cruzado que foi considerado o maior estelionato político da história econômica recente do Brasil. Plano cruzado dois, plano verão, “feijão com arroz”, foram algumas das alternativas encontradas por aqueles que governaram o Brasil no primeiro período pós-regime militar.
O nosso JP estava lá noticiando tudo. Noticiou quando ao final daquela fase desastrada de governo a inflação havia saltado para 80% ao mês. Esse foi o legado do governo da Nova Republica ao “Caçador de Marajás” que se elegeu prometendo arrancar fio por fio o bigode do ex-inquilino do Palácio do Planalto. Não apenas não arrancou, como lhe pediu ajuda para estabelecer uma das maiores agressões que se tem noticia no Brasil: O “Plano Collor” que surrupiou a “grana” da conta dos brasileiros que trabalhavam e que acreditaram na sua proposta. Nós havíamos ficado com o líder sindical que dizia ter uma proposta de governo diferenciada. Pouco mais de dois anos, foi o tempo que permaneceu aquele período de aventuras irresponsáveis no Brasil. Itamar Franco assume e criou o plano de estabilização monetária que reverteria em definitivo a inflação no Brasil. Fernando Henrique se elege presidente duas vezes, prossegue na tarefa de estabilizar a moeda, promove o cambio flutuante, as privatizações e cria os caminhos para o desenvolvimento.
Lula assume em 2002 já com outro discurso e outra imagem devidamente maquiada por marqueteiros antes execrados. Une-se a todos aqueles que antes dizia combater e que diziam combatê-lo. O JP mostrava tudo isso em textos bem elaborados e em charges com grande criatividade.
Em termos tupiniquins, foi pela redação dos jornalistas do JP que lemos (sem trocadilho) as análises e as criticas ao “modus operandi” da família que assumiu em 1965 o poder no Estado, tendo desbancado uma outra que pontificava até então, e dominaria a política no estado por longos 50 anos.
Nestes sessenta anos o Maranhão experimentou poucos momentos de prosperidade. Um deles foi ao final dos anos setenta e começo dos anos oitenta, quando detínhamos a terceira posição no Brasil na produção de arroz e chegamos a produzir mais de três mil gramas diárias de alimentos por pessoa. Mas no JP também se pôde acompanhar o caos que aconteceu na economia agrícola maranhense nos anos noventa (a década perdida), que culminou com a produção de pouco mais de 600 gramas diárias de alimentos por dia em 1998. O JP denunciou que o Maranhão adentrou ao novo milênio com o pior IDH do Brasil, detendo a condição de estado mais pobre da Federação. Mas também noticiou que entre 2002 e 2008 o estado experimentou um curto período de recuperação de indicadores socioeconômicos.
Foi o JP que mais se posicionou contra o golpe jurídico que retirou o candidato legitimamente eleito em outubro de 2006. No JP também eu li, com pesar, a nota da passagem do Dr. Jackson Lago, já neste ano em que completa os seus sessenta anos.
Nos esportes o JP acompanhou as cinco copas ganhas pelo Brasil. Testemunhou a fase áurea do futebol maranhense, que talvez tenha sido nos anos sessenta. Naquela década os times maranhenses, sobretudo o meu Sampaio Correa, o Moto Club e o Maranhão Atlético Clube, disputavam torneios no Norte e Nordeste e se saiam bem. O Maranhão foi campeão do Norte em torneio de seleções. Era bom em futebol de salão.
Mas o JP também noticiou, infelizmente, a decadência do nosso futebol ao ponto de chegar ao patamar que temos hoje.
Um grande patrimônio dos maranhenses. Nós devemos nos orgulhar da linha editorial do JP. Nele eu busco diariamente, à distância, agora usando tecnologia de ponta, as informações da minha terra.
Os meus cumprimentos a todos os membros do JP, do mais humilde até à sua direção, passando pelos seus colaboradores.
*Professor associado na UFC. Leitor assíduo do JP.E-mail: lemos@ufc.br
Blog: www.lemos.pro.br
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