JM CUNHA SANTOS
Quis ir ao baile de gala, fantasiado de professor, mas não havia Estatuto a empunhar como alegoria de mão. Tentei me fantasiar de funcionário público, mas acabaram com o concurso, reduziram o salário mínimo e não pude participar.
Quis me fantasiar de PM, mas a farda era muito mais cara e acabei por desistir. Fantasiei-me de policial civil, mas as armas nas mãos dos bandidos me fizeram recuar.
Quando tive a genial idéia de me fantasiar de BNDES, me fizeram tanto afago, me meteram tanto a mão que meu dinheiro sumiu e não pude brincar o carnaval. Aí eu me vesti de Hidrelétrica, mas um sujeito fantasiado de Dinamite do Capinzal resolveu me explodir. Até que pensei, mas não ousei, fantasiar-me de Refinaria. Nem com Premium de originalidade.
Quis me travestir de assentado do INCRA, mas umas casas mal construídas, todas feitas por Terceiros, desabaram em cima de mim. Não demorou muito e a turba-multa gritava: “Sai de Pesquisador, sai de Pesquisador”. Saí. Mas era a fantasia mais concorrida do Baile de Gala Governamental.
Voltei para casa, me vesti de povo e decidi enfrentar o luxo e o poder das pessoas especiais que se refestelavam com os Comes & Bebes, raras iguarias e bebidas internacionais do exclusivo e restritivo Baile de Gala. Envergonhei-me com o luxo daquelas fantasias. Roseana fantasiada de “Enchentes”, Luís Fernando de “Helicóptero”, Olga Simão de “Fapema” (um monstrengo indescritível) Jorge Murad de “Suzano”, Aluísio de “Decapitado” e Bia Aroso de “Paço do Lumiar” cantavam a plenos pulmões: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí”.
Revoltado, liso e desempregado, saí de lá cantando mais alto que eles: “Sai, sai, sai, sai Urubu da minha sorte”... Fui preso.
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