Por: José Reinaldo
Todos sabem que o senador José Sarney é um homem muito inteligente e bem dotado intelectualmente. Mas soam patéticas as tentativas que faz para se isentar, isentar a sua família, assim como o seu grupo político pela miséria em que está mergulhada a população do estado, após mais de 40 anos de domínio político total. Em todos esses anos, desde 1965, José Sarney teve acesso permanente ao orçamento federal em todos os governos. Sem falar que durante cinco anos em que ele próprio foi o presidente da República, ou seja, foi o próprio governo federal, gozou de amplas condições, como mais ninguém no estado jamais teve, de transformar o Maranhão em um unidade federativa modelo, como estava ao seu alcance.
Digo tudo isso porque já li, pelo menos em três vezes, entrevistas do senador, tentando justificar o que é injustificável: uma família tão poderosa, com um patriarca tão importante, governando um estado por tanto tempo e o resultado foi apenas a pobreza persistente da população.
O ex-presidente não consegue encontrar uma desculpa minimamente razoável e tem apelado para desculpas que não se sustentam ao menor exame. Experimenta agora uma desculpa ridícula. Passou a dizer que o Maranhão não tem jeito e que jamais poderá se desenvolver porque não possui recursos naturais. É triste para um homem tão inteligente!
Mas pensando bem, o que mais pode dizer, se exatamente os vários governos de sua filha foram aqueles que mais contribuíram para esse estado de coisas?
No ano passado li uma longa entrevista que ele concedeu também a uma revista, em que afirmou que o problema do estado era a região tropical onde estava inserido, pois devido ao calor o povo se tornou indolente e sem interesse maior pelo trabalho e pelo desenvolvimento. Pouca gente leu por aqui, pois essa revista, da Joyce Pascovitch tem um público menor e mais específico.
Deve ter percebido que é essa é uma tese indefensável e agora parece que se fixou mais na carência de recursos naturais que na verdade não é argumento válido, já que não impediu o Japão de se tornar uma das nações mais ricas do mundo, ou Israel, que nem de água ou solo fértil dispõe, e é uma potencia tecnológica. Ou ainda, se pensarmos na Califórnia, o estado de maior renda per capita dos EUA, que possui terras áridas em seu território. Os exemplos são infindáveis. Essa tese causou espanto, pois Roseana anunciou durante a eleição passada que haviam descoberto “um lençol de gás de dimensões bolivianas”. José Sarney não leu?
O fato é que, convenhamos, é uma missão difícil mesmo para um homem muito inteligente como ele. Por exemplo, não pode alegar que aqui não chove. Não pode alegar que os rios não são perenes, pois temos sete bacias hidrográficas perenes, com os rios correndo o ano todo. Não pode alegar que uma grande parte do Maranhão é um deserto onde só há areia, pois, excetuando-se a região do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, onde vai encontrar esse areal? Não pode alegar que aqui há geadas ou estamos sujeitos a terremotos, tsunamis, tempestades de neve, ciclones, vendavais, ou aqueles redemoinhos gigantes, os tornados, que acontecem nos EUA. Como nada disso pode ser alegado, como o senador pode construir uma desculpa aceitável, minha gente? Acaba sendo cruel criticar isto que ele tenta fazer pela sua filha…
Mudando de assunto, durante todo o meu governo, os indicadores de assassinatos de adultos e de jovens sempre figuraram nos patamares dos dois mais baixos entre os estados brasileiros. Agora tudo despencou e o Maranhão já está sendo apontado como o estado em que proporcionalmente as taxas de crimes relacionados a 100 mil habitantes mais cresceu no país. A taxa de expansão chegou a 367%, vindo em segundo a Bahia com 280%. São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, reduziram muito a ocorrência desse tipo de crime. Como o governo não tem foco na ação e nem planejamento, tudo vai piorar. Infelizmente!
Hoje o que se chama de mídia é muito eficiente e ‘transforma’ a realidade da população. Na verdade pode fazer as pessoas acharem que as coisas estão melhorando. Ou o inverso. Senti isso no meu governo que eles se empenharam a fundo para difundir uma versão de que nada havia acontecido de bom. O que fica e mostra a eficiência ou não de um período de governo são as estatísticas do PNAD, do IBGE, do IPEA e a de profissionais competentes, como o professor José Lemos da UFC.
Por meio desses dados, não há dúvidas do avanço que o Maranhão teve no meu governo, o maior da história do estado. O IDH passou de 700 (era 625) o PIB estadual dobrou em menos de cinco anos. A renda per capita foi multiplicada por 4 (maior crescimento em todo o país) e tivemos avanços em todas as áreas como escolaridade, exclusão social, habitação, saneamento, produção agrícola, tudo conseguido a partir do saneamento fiscal do estado. Infelizmente, estou sendo informado de que levantamentos desses anos mais recentes de Roseana Sarney já dão indícios de regressão. Seria o pior dos mundos para o Maranhão. Todos melhoram e o Maranhão piora, como no passado.
Os dados estão aí para raiva da oligarquia, pois mostramos que o Maranhão, ao se livrar deles, pôde crescer rapidamente e se tornar um estado progressista em poucos anos, exatamente o contrário do que diz o senador José Sarney.
Vejam como a publicidade pode mudar tudo, até o sentimento. Vejam o que escreveu Clóvis Rossi na Folha de São Paulo deste domingo:
“Nunca antes? Nada disso. Reinaldo Gonçalves é professor titular de economia internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos raros acadêmicos de esquerda que não se deixou cooptar por uma boquinha no governo ou até por menos, como um convite para jantar com os poderosos de turno.
Fez o que deve ser o papel do intelectual: mergulhou nos dados do IBGE e do Fundo Monetário Internacional para desafiar a propaganda governamental sobre as incríveis façanhas do governo Lula.
Montou tabelas que mostram o seguinte, em resumo apertado:
1 – Os 4% de crescimento médio do governo Lula colocam-no apenas em 19º no campeonato nacional de progresso econômico, entre os 29 presidentes desde a proclamação da República.
Perde, por exemplo, para Itamar Franco e José Sarney.
2 – Quando começou o governo Lula, o Brasil representava 2,9% do PIB mundial. Quando terminou o governo Lula, o Brasil representava 2,9% do PIB mundial. Portanto, estagnou na competição global. E ficou longe dos 3,91% de 1980.
3 – Em matéria de variação comparativa do PIB, no período 2003/ 2010, o Brasil fica em humilhante 96º lugar, entre 181 países. Está no meio da tabela e abaixo até da média mundial de crescimento, que foi, no período, de 4,4%.
4 – Em matéria de renda per capita, a do Brasil evoluiu de US$ 7.547 para US$ 10.894, entre 2003 e 2010. Mas a sua posição no ranking mundial só piorou. Estávamos em 66º lugar e caímos para 71º. Só para cutucar o cotovelo dos “argentinofóbicos”, a renda per capital da Argentina é cerca de 50% maior que a do Brasil, com seus US$15.064. E ela melhorou, do 61º lugar para o 51º.
Não quer dizer com toda a numeralha que o governo Lula foi um desastre. Ao contrário. Mas tampouco foi o milagre que a sua propaganda apregoa. Simples assim”.
Essa é a arma da oligarquia.
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