Dora Kramer (O Estado de S.Paulo)
Eles são todos do PMDB, na maioria ex-governadores e recém-eleitos para o Senado.
Se de longe já olhavam com preocupação a respeitabilidade da Casa se esvair em crises e desmandos, de perto viram que o cenário era ainda pior: uma estrutura corporativista voltada para assegurar benfeitorias de funcionários e senadores, cujo desmonte só se fará ao custo da ruptura do pacto não escrito que a sustenta.
A partir dessa constatação, um grupo de oito senadores pemedebistas começou a se organizar numa espécie de rebelião pacífica com o objetivo de disputar a próxima eleição para presidente e impedir que José Sarney tenha êxito no plano de fazer de Renan Calheiros seu sucessor.
Os “novatos” Eduardo Braga (AM), Luiz Henrique (SC), Casildo Maldaner (SC), Roberto Requião (PR), Ricardo Ferraço (ES) e Waldemir Moka (MS) juntaram-se a Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), que até então combatiam sozinhos e eram marginalizados no partido, para primeiro reorganizar o equilíbrio de forças dentro do PMDB.
Eles conseguiram reintegrar os colegas à bancada, começando por recuperar a vaga de Pedro Simon, que havia sido afastado da Comissão de Constituição e Justiça, e obtiveram algumas vitórias.
Foi por pressão deles que Renan Calheiros e Romero Jucá foram à tribuna defender que a presidente Dilma Rousseff vetasse duas emendas em medidas provisórias apresentadas por parlamentares do próprio partido e consideradas “indecentes”.
Uma dava anistia a dívidas de banqueiros falidos e outra prorrogava, sem licitação, os contratos de lojas e serviços comerciais nos aeroportos.
E por que Renan e Jucá atenderam às exigências, quando normalmente não dariam bola para reclamações? Porque o grupo dos oito recebeu a adesão de outros três e, com isso, formaram maioria de 11 numa bancada à época de 19 (hoje são 20) senadores. Se não aceitassem, poderiam ter dificuldades: por exemplo, perder apoio para se manterem respectivamente como líderes do partido e do governo no Senado.
Já houve também ampliação da interlocução com o governo, até então uma exclusividade da trinca Sarney, Renan e Jucá. A ideia desses senadores é estabelecer um ambiente mais qualificado na bancada do PMDB, a maior do Senado, e depois estender o movimento para outros partidos onde há parlamentares igualmente desconfortáveis com a degradação da Casa.
Não se espere, porém, uma evolução muito rápida nessa movimentação. Experientes, os senadores sabem do poder do “pacto da mediocridade” sustentado por funcionários-chave encastelados em postos estratégicos com respaldo de senadores.
Qualquer tentativa de confronto, como aprovação de uma reforma administrativa agora a ferro e fogo, poderia pôr tudo a perder. O trabalho é lento, requer paciência e capacidade de convencimento para conseguir a adesão da maioria e alterar a correlação de forças hoje francamente favorável ao “esquema”.
Nascimento e morte. Um, Alfredo Nascimento, se licencia do Senado para não enfrentar processo – se demissão por suspeita de corrupção não for quebra de decoro na vida de um parlamentar “emprestado” ao Executivo, difícil saber o que seria -, e outro, Blairo Maggi, não aceita ser ministro porque tem telhado de vidro, morre de medo de virar alvo e ir ao chão.
Ao mesmo tempo o secretário-geral, controlador do partido em foco (PR) e réu do mensalão, Valdemar da Costa Neto, submerge para não chamar atenção enquanto espera passar o vendaval.
Ou seja, está tudo errado nessa insistência da Presidência da República de preservar as credenciais do PR como aliado com direito ao manejo de um naco da administração federal.
Isso não é sinal de habilidade para contornar dificuldades políticas. Denota hesitação e abre espaço a um erro de cálculo, pois ao deixar o PR fritar-se a presidente Dilma Rousseff corre risco de se queimar junto à sociedade e ao Congresso por falta de regras claras quanto ao que é aceitável ou inaceitável na rotina de seu governo de coalizão.
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