POR MANOEL SANTOS NETO
Em entrevista ao Jornal Pequeno, o ex-governador José Reinaldo Tavares, candidato a senador pelo PSB, avalia o atual estágio da campanha, observando que cresce a rejeição de Roseana, candidata do PMDB ao governo, mesmo ela tendo em seu favor a máquina do estado e uma intensa propaganda nos veículos de comunicação.
Na visão de Zé Reinaldo, Roseana, “conhecida por todos, é mal avaliada pela maioria da população. E, no momento, a oligarquia lança mão de todo seu arsenal formado por Lula e Duda Mendonça na ânsia de evitar o segundo turno e o trauma que ele traz para a família”.
Diante deste quadro, Zé Reinaldo adverte que é preciso que a população fique atenta: “A disposição da oligarquia é vencer de qualquer maneira, utilizando qualquer meio válido ou inválido, lícito ou não”. Leia abaixo, na íntegra, a entrevista concedida ao JP pelo ex-governador:
JP – A esta altura da campanha, o senhor acredita que já há um quadro praticamente definido para as eleições no Maranhão?
Zé Reinaldo - O grande número de indecisos revela que o eleitor agora é que começa a se interessar pela eleição. Pior para Roseana Sarney, que é conhecida por todos e é mal avaliada pela maioria da população. No momento, a oligarquia lança mão de todo seu arsenal formado por Lula e Duda Mendonça na ânsia de evitar o segundo turno e o trauma que ele traz para a família.
JP – Mas esta estratégia não está dando certo?
Zé Reinaldo - Parece que não está dando resultado após tantos dias de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Era o que ainda lhes dava perspectiva de vitória após as ameaças e promessas de recursos aos prefeitos. Não sabem o que fazer com tanto dinheiro (que gastam a rodo) e com tanto tempo de propaganda eleitoral. Até agora na propaganda de Roseana Sarney temos como destaque um helicóptero que enxerga dentro das casas e um trem que só leva a família. Roseana não consegue dizer coisa com coisa.
JP – Por que esta sua luta para chegar ao Senado?
Zé Reinaldo - O Senado virou um clube de amigos, de empregos secretos depois de sucessivas administrações do senador José Sarney. Hoje, um terço dos senadores não foi eleito, são suplentes, geralmente filhos, pais ou parentes dos próprios titulares que por não terem sido eleitos não tem nenhum compromisso com nada, empobrecendo o Senado e concorrendo fortemente para a desmoralização da classe política, dos senadores e da instituição.
No Maranhão, como sempre, a coisa é quase escandalosa. Aqui falam que Lobão será nomeado ministro e seu cargo, se eleito, será para o filho Edinho, seu suplente. A mesma coisa com o outro candidato da oligarquia, João Alberto, que será candidato a prefeito de Bacabal, se for eleito senador e aí, nesse caso, passará seu cargo para seu suplente.
Os senadores do Maranhão não aparecem na TV do Senado defendendo qualquer pleito de qualquer categoria de trabalhadores do estado. A pedido de José Sarney votaram a favor do Rio de Janeiro contra a divisão igualitária dos royalties do petróleo por todos os estados mesmo sabendo que o Maranhão seria beneficiado anualmente com cerca de R$ 1,7 bilhão por ano. São senadores de Sarney e não do Maranhão.
JP – O senhor acredita então que, chegando lá, será possível reverter este quadro?
Zé Reinaldo - Vou para o Senado ajudar o Maranhão e defender os assentados, os trabalhadores rurais, os professores, os policiais e todas as categorias profissionais que tiverem causas justas que dependam do Senado. Vou lutar contra a pobreza como fiz no governo e pelo desenvolvimento do estado prestando conta diretamente à população em reuniões com os interessados. Vou fazer o povo compreender, através do exemplo, qual o valor de um senador. É importante elegermos senadores que não peçam benção para José Sarney.
JP - Com o crescimento dos candidatos da oposição, haverá um segundo turno na eleição para o governo do Estado?
Zé Reinaldo - Não tenho dúvidas. O povo quer duas coisas fundamentais: vingar o que fizeram com Jackson ou alcançar a mudança definitiva de métodos e práticas que permitam trazer oportunidades para todos e honestidade no trato do dinheiro público com Flávio Dino. Aí é importante para Flávio Dino ou para Jackson Lago que no seu palanque possam contar com a presença de um senador eleito pela oposição. Será muito importante que dentro de pouco tempo o eleitor escolha para votar em um senador da oposição que tenha chances reais de vencer e de enfrentar a oligarquia no Senado.
JP - Nas eleições de 2006, o senhor não disputou nenhuma eleição; ficou até o final de seu governo. Valeu a pena este sacrifício?
Zé Reinaldo - Me sacrifiquei pelo projeto democrático da alternância do poder no Maranhão. Se eu saísse iria acontecer o que foi uma repetição em quase todas as eleições nesses 40 anos. O uso desenfreado da máquina pública a favor dos candidatos da oligarquia e da obtenção do poder no estado. Formei a convicção no governo que tão importante quanto eleger o governador é eleger senadores para quebrar definitivamente a origem do poder da oligarquia que está no Senado. Foi no Senado que esse grupo político oligarca encontrou o poder para dominar o Maranhão, perseguir a oposição, tirar do cargo o governador Jackson e impedir que projetos como a siderúrgica viessem para o Maranhão quando fui governador. A mudança virá quando elegermos senadores que lutem por um Maranhão digno e pela alternância do poder. Por isso sou candidato.
JP – E quem são os seus companheiros de chapa?
Zé Reinaldo - Não tenho parentes como suplentes. Um deles é Sérgio Matos. Veterinário, estudante de medicina e pertencente aos quadros da Polícia Rodoviária Federal e a outra é a grande líder rural Socorro Nascimento, escolhida pelas organizações sociais do meu partido, o PSB.
JP - Como o senhor está vendo o atual cenário da disputa pela Presidência da República?
Zé Reinaldo - Essa é uma eleição realizada sob a formidável popularidade do presidente Lula que nos leva a crer na vitória de Dilma Rousseff, sua candidata.
JP - A questão da pobreza no Maranhão, a seu modo de ver, está sendo abordada de forma adequada nesta campanha?
Zé Reinaldo - Acho que esse tema tem sido pouco abordado. A candidata Roseana Sarney diz em seus programas que é falar contra o Maranhão se referir à imensa pobreza em que vive a maioria da população. Quer que esqueçamos que ela e seus governos contribuíram fortemente para aumentar e agravar a pobreza da população do estado ao sair do governo e deixar 159 municípios sem ensino médio e ter acabado com a estratégica Secretaria da Agricultura.
Quando saiu do governo o Maranhão era o estado mais pobre do país. Aliás, seu governo atual atacou fortemente os governos anteriores dela publicando uma brochura pela Secretaria de Planejamento do Estado em 2009 dizendo, baseado em dados do IBGE, que a década de 90 (governadores Edison Lobão e Roseana Sarney) foi a “década perdida” para o Maranhão e que tudo mudou entre 2002 e 2007 (época do meu governo), quando o estado passou a crescer mais que o Nordeste e do que o Brasil, duplicando o PIB e triplicando a renda per capita. Esse julgamento é definitivo e arrasador. Por isso ela foge do tema que devia ser a principal discussão nessas eleições. Nada é mais importante do que mudar essa realidade.
JP – Qual a avaliação que o senhor faz das demais candidaturas ao Senado: Lobão, João Alberto, Vidigal, Roberto Rocha, Professor Adonilson etc?
Zé Reinaldo - Os dois primeiros já foram senadores e não deram contribuição nenhuma para mudar a trágica situação do estado. João Alberto dizia que os maranhenses moravam em casas de palha porque gostavam, para se ter idéia da profundidade do pensamento dominante na oligarquia. Agora querem ser de novo depois de tantos anos lá. O principal trunfo que usam repetidamente é a gravação do presidente Lula elogiando-os. Lobão, Lula conviveu e João Alberto?
Eles na verdade vão atuar conforme a vontade de José Sarney, o verdadeiro chefe. Por que não pedem ao Sarney para gravar pedindo votos para eles? Seria 100% honesto fazer isso, pois os senadores representam o estado e os deputados representam o país. Por que não?
Roberto Rocha e Edson Vidigal são quadros respeitados da oposição, mas se tivesse saído, como propus a Jackson Lago, apenas um candidato ao Senado em cada coligação, a de Flávio Dino e a de Jackson Lago, seria muito mais viável a eleição dos dois candidatos ao Senado pela oposição. Complicou um pouco. Adonilson é um grande quadro, muito capacitado, e com grande futuro. Tem condições de crescer.
JP - Qual sua análise da participação de políticos maranhenses – Cafeteira, Lobão, Mauro Fecury e Zé Sarney – na atual composição do Senado da República?
Zé Reinaldo - O Mauro Fecury poderia dar uma grande contribuição pela vontade que tem de ajudar o Maranhão. Mas a oligarquia quer apenas usar o Mauro e não permitiram a sua candidatura ao Senado como era de seu desejo. Cafeteira, segundo sabe-se está com a saúde abalada, Lobão já falei e Sarney usa o Amapá e o Maranhão para ter poder no Maranhão sem dar nenhuma contribuição ao desenvolvimento do estado atuando apenas para tirar proveito jornalístico do interesse de empresas privadas que desejam vir para cá atribuindo a filha méritos que não possui e se apropriando do trabalho de outros governadores na atração das empresas. Basta examinar o período quando foi presidente da República, na verdade grande oportunidade que o Maranhão não aproveitou.
JP – Como o senhor avalia as candidaturas ao governo, especialmente as de Roseana Sarney, Jackson Lago e Flávio Dino?
Zé Reinaldo - Roseana Sarney traz como currículo o desastre que foram seus 10 anos no governo, cheios de promessas repetidas a cada eleição sem que nenhuma tenha sido realizada. Agora, além dos dez, pede mais quatro para fazer. Dá para acreditar?
Jackson Lago não pode ser julgado como governador porque ele foi tirado no meio de seu governo. É razoável seu desejo de ser governador de novo para completar seu governo. Flávio representa uma candidatura consistente, homem honrado e limpo, premiado com distinção em todas as funções que exerceu. Representa a esperança de tempos novos e melhores para o Maranhão.
JP – Como o senhor analisa as recentes pesquisas sobre os candidatos ao Senado e ao governo do Maranhão?
Zé Reinaldo - A oligarquia não se renova, apenas se repete. Tudo isso já era esperado, pois em todas as eleições eles fazem a mesma coisa. Tentam criar um clima entre os políticos e eleitores que não existe na realidade da população. Isso não vai salvá-los da derrota.
JP - Qual sua opinião sobre a polêmica que vem se travando em torno da aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa?
Zé Reinaldo - A lei é um avanço e benéfica. A polêmica é pela interpretação dada e muito contestada sobre a extensão de penas já cumpridas. Virou confusão.
JP – Em 2006, diversas expressões da política maranhense, sob a sua liderança, construíram a unidade das oposições, que levou à vitória de Jackson Lago. A seu modo de ver, será possível a unidade das oposições para estas eleições, na eventualidade de um segundo turno?
Zé Reinaldo - Eu não tenho dúvidas sobre isso. Existem compromissos firmados entre as maiores lideranças. Esse é o caminho para mudar radicalmente o Maranhão.
JP – Com a experiência de um homem que exerceu por longos anos diversos cargos, tendo sido ministro e governador, qual a visão que o senhor tem desta campanha e do momento atual que o Maranhão está vivendo?
Zé Reinaldo - É preciso que a população fique atenta, pois a disposição da oligarquia é vencer de qualquer maneira, utilizando qualquer meio válido ou inválido, lícito ou não. A intimidação tresloucada que tentaram fazer sobre Terezinha Fernandes em Miranda quando ela filmava o uso de bens públicos na campanha de Roseana é didática e esclarecedora. A fiscalização no final da votação nos pequenos municípios para evitar votação de eleitores fictícios é fundamental. O uso da polícia para prender cabos eleitorais da oposição no dia da eleição é prática repetida por eles.
A presença da imprensa nacional em São Luís pode ajudar a inibir o uso da violência e da intimidação nos eleitores e políticos da oposição. A oposição deve se reunir numa espécie de Central Única de Fiscalização para se fortalecer nesse quesito, além de usar fiscais voluntários que queiram uma eleição limpa no estado. O passado da oligarquia recomenda que todo cuidado é pouco.
O momento do estado é de retorno à situação anterior ao meu governo com o agravamento dos indicadores de pobreza. Vive-se hoje de propaganda. Só o voto acabará com isso definitivamente.
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