Por José Reinaldo Tavares
O lançamento da candidatura de Edinho Lobão ao governo do Maranhão parece guardar muita semelhança a de um “balão de ensaio”, daqueles que são lançados no meio de uma crise para saber se a pretensão tem condições de se afirmar ou não. Não dá para pensar diferente, pois nunca antes nesse estado, quiçá no país, tivemos a desistência de uma chapa majoritária toda, candidatos a governador e senador, exatamente por ocasião da data legal limite para sair do governo e se tornar pré-candidato.
Foi em termos metafóricos a explosão de uma bomba, causada exatamente por quem deveria estar comandando o processo político de escolha das candidaturas por parte do grupo Sarney. E tal processo foi tão alucinado que o então candidato ao governo saiu do governo para nada. O único que – por sorte – parece que se saiu melhor na história foi o sacrificado vice-governador, que teve que deixar o cargo para que Roseana pudesse alçar o seu atribulado candidato ao governo, por meio de eleição indireta a ser conduzida pelos deputados na Assembleia Legislativa.
Mas como não “combinaram com os russos” e não seguiram a lição do craque Garrincha, ela não pôde cumprir o seu plano. Isto se deu mais por incompetência e inapetência do que por outra causa qualquer. Sobrou para todo o seu grupo político que, de uma hora para outra, estavam envolvidos em um verdadeiro buraco negro. As promessas evaporaram, aliás, como sempre.
O que fazer então? Como manter a serenidade no meio da desordem política? Apelaram para Lobão, que nem pensava mais em qualquer possibilidade de ser chamado, de tanto que foi tão hostilizado pelos Leões e tratado sem o mínimo respeito. Mas enfim o senador José Sarney resolveu recorrer a “sua turma”, chamando Lobão e João Alberto para evitar a debandada geral. Lobão não mais poderia mais ser candidato, pois não se desincompatibilizara na data legal. João Alberto, depois de tanto tempo perdido, desdenhou da possibilidade de ser um candidato competitivo àquela altura.
Eis que, para atender o desejo de José Sarney de colocar Lobão na campanha, nasceu a candidatura de Edinho Lobão. Agora vejam que no momento essa candidatura é para valer, mas poderá não ser no final de junho, que é a data limite das convenções partidárias que definem os candidatos. Se assim acontecer, pelo menos terá servido para animar a turma com a possibilidade de aparecer uma “ajuda de campanha”.
Contudo, se o balão não subir o necessário, é possível imaginar mais uma troca geral de candidatos no seio do governo e nesse caso Edinho Lobão iria disputar o senado e João Alberto receberia a missão de ser o candidato governista ao Palácio dos Leões.
Esse é o jeito deles. O que importa é o poder. Lembremos o passado recente em que o candidato Luiz Fernando – “metido num azougue” – não parava em canto nenhum, fazendo visitas a vários municípios por dia e sempre assinando ordens de serviço de obras. Ainda tentei alertá-lo sobre seu grupo, dizendo que ele não seria o candidato e que seria substituído, mas ele, crédulo, ficava muito zangado comigo e descarregava sua raiva me insultando em seus pronunciamentos. Deu no que deu. Aliás, fiquei sabendo que todas as empresas que estavam trabalhando por conta das ordens de serviço que ele assinou já abandonaram as obras.
Mas, voltando ao assunto, na apresentação do novo candidato, ocasião na qual Luiz Fernando fez muito bem em não ir, a sua patronesse, Roseana Sarney, o humilhou ao extremo ao dizer que o candidato “natural” do grupo sempre fora Lobão – o pai, evidentemente – mostrando toda a crueza das ações do grupo e o modo como fazem política. Descartam qualquer um, com crueldade, quando não lhes são mais úteis.
E o novo candidato que abra o olho, pois a mesma governadora (que diga-se de passagem nunca morreu de amores por eles – a família Lobão) avisou duramente: “Edinho Lobão não é o meu candidato. É candidato do grupo”. Verdadeiro aviso aos navegantes. Mais claro impossível. Os Lobão que se virem com a classe política. Deu para entender?
Nesse ínterim, no entanto, nada disso estancou a debandada dos mais independentes em direção à candidatura oposicionista ao cargo de governador. E nesse fluxo, Flavio Dino passou dos 60 por cento de intenção de votos. Esse é o panorama. Semana passada estive na região tocantina e a rejeição ao candidato governista é enorme. Fiquei impressionado.
Mudando de assunto, o ministro Lobão, que comanda um dos mais importantes ministérios do país, o de Minas e Energia, mesmo não tendo em sua formação maior alinhamento com o tema (embora tenha tido algo mais importante: a indicação do senador José Sarney), meteu o setor elétrico em grande crise. A crise é tão grande que três dos cinco diretores da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – órgão que não faz parte do governo, pois é um órgão do mercado de energia destinado fazer o registro e compensação das diferenças entre os compradores e vendedores do mercado – foi praticamente obrigada pelo governo a tomar um empréstimo enorme de 11,2 bilhões de reais. Tal empreitada se deu com o objetivo de socorrer as empresas de energia elétrica, praticamente falidas pelo populismo eleitoreiro do governo. É uma medida de desespero, pois a Câmara não tem lastro financeiro para receber o empréstimo, e, revoltados, três dos cinco conselheiros pediram demissão e ainda não foram substituídos. Tudo isso é uma manobra para evitar que a conta de energia suba antes da eleição, mas essa conta terá que ser paga a partir do ano que vem e o consumidor que não tem nada a ver com o descontrole total do setor, mas é quem terá que pagar a lambança.
Os reservatórios chegarão ao final do ano quase secos. Se tivermos muita sorte e, ainda que fora do período chuvoso, passar a chover muito daqui para frente, talvez possamos escapar do racionamento previsto. Não escaparemos, contudo, da perspectiva de existência de uma bomba fiscal e financeira para desarmar. A crise está instalada, a solução é dificílima e a fatura será cobrada do ministro Lobão pela presidente, com culpa ou sem culpa.
Enquanto isso, mudando de assunto novamente, aviso que o surpreendente escândalo dos precatórios está apenas começando. É gigantesco. E por si só poderá explicar muita coisa anormal que aconteceu neste ano…
E por falar em surpresas – negativas, claro – o governo Roseana continua na sua saga de nos surpreender a cada semana. Estudantes me contaram em Imperatriz que foram fechados oito escolas estaduais na cidade. Alguns tradicionais, enormes, como o Amaral Raposo. Grande parte deles funcionava também à noite, fato que torna a interrupção de suas atividades algo extremamente prejudicial aos trabalhadores que fazem suas atividades laborais durante o dia e têm apenas o período noturno para estudar. É revoltante a irresponsabilidade do governo de Roseana Sarney.
Para finalizar, estive sábado em Timon, onde recebemos Flávio Dino e Eduardo Campos, respectivamente, pré-candidatos a governador do Maranhão e a presidente da República. Ambos foram muito aplaudidos pela enorme plateia presente. Eduardo levou-os ao delírio quando, em seu competentíssimo discurso, disse: “Eu serei presidente da República e respeitarei, sim, o presidente Sarney, mas no meu governo ele vai ser oposição nos quatro anos, porque acho que o Brasil precisa de um presidente que olhe no olho de cada um e diga: a fartura de Brasília acabou”.
Enquanto isso, vamos só comparando os governos de Roseana e de Dilma Rousseff. É lamentável perceber que estão cada vez mais parecidos e nada têm para mostrar…
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