Corria o ano de 1964. O Brasil enfrentava uma instabilidade institucional grande. Era uma maré de incertezas e de perplexidades. O “golpe” que sempre estava presente no debate político nacional era uma ameaça que como um bicho estava pronta para sair do esconderijo.
Aqui no Maranhão, depois das eleições para a Câmara dos Deputados, em que eu obtivera uma votação esmagadora e só com meus votos elegera dois deputados, assumira uma posição de liderança e todos me lançavam como candidato ao Governo do Estado. Era o líder da oposição mais popular e tinha a meu favor a opinião pública da capital e do interior. Mas não detinha o apoio do PSP, partido comandado por Clodomir Millet, que dentro de suas fileiras possuía dois candidatos naturais: Neiva Moreira e Henrique de La Rocque. Eu achava que os dois tinham precedência na disputa para o governo, pois eram mais velhos do que eu dentro dos quadros da luta contra o vitorinismo.
Mas os partidos menores, entre os quais se destacava o PR, presidido pelo deputado Manoel Gomes, um homem de grandes virtudes, registrou minha candidatura com bastante antecedência, para que na cédula oficial ele figurasse como primeiro da chapa. A legislação permitia e era praxe naqueles tempos. Veio o regime militar e zerou toda mobilização política. As eleições foram transformadas em indiretas e o jogo passou a ser outro. Mas, como tudo em política, onde o mais certo é o imprevisível, numa briga entre Carlos Lacerda e o presidente Castelo Branco este restabeleceu eleições diretas para governador.
Millet me procurou para fazermos uma união de vontades e escolher um candidato comum. Fomos juntos, eu, ele e La Rocque, ao presidente Castelo Branco comunicar nossa decisão, sem candidato ainda. O presidente nos recebeu e Millet falou do nosso acordo e pediu sua opinião.
O presidente Castelo então começou a reunião dizendo:
- Dr. Sarney – sempre me chamou assim – é da UDN, é muito popular, mas só tem voto na capital. – Não contestei. Ele prosseguiu:
- Dr. La Rocque, o senhor aceita ser candidato? – La Rocque respondeu que não e deu alguns motivos pessoais.
E o senhor, senador Millet, aspira ao cargo? – Millet rispidamente respondeu que não.
O presidente Castelo Branco saiu então com uma solução:
- Então, vamos ter um nome fora da disputa estadual, que unirá todos os senhores: o brigadeiro Armando Menezes.
Millet deu um pulo grande e enfrentou o presidente:
- Não, presidente, este eu não aceito, nem ganhará a eleição. No Maranhão, ninguém o conhece e isso será entregar a eleição para o Renato Archer.
Eu continuava calado e aqui comigo tinha a minha decisão: se La Rocque não queria, Millet também não, Neiva Moreira transferira seu título para o Rio de Janeiro e fora cassado, a vez era minha e eu não recuaria.
O presidente Castelo Branco então concluiu a reunião dizendo que, diante desse impasse, só restava o meu nome e se o Millet não vetasse, poderíamos compor em torno dele. Millet disse que poderia apoiar-me desde que se fizesse uma revisão eleitoral no Estado. Castelo prometeu ajudar. A revisão foi feita e eliminou 180.000 fantasmas.
Saímos do Palácio do Planalto, o Millet brigando comigo pelo meu silêncio e ameaçando não me apoiar. Depois tudo passou e resolvemos marchar juntos, com o PSP lançando o vice. Millet indicou o dr. Antônio Dino. Fiquei muito feliz. Era um grande nome, médico renomado, homem íntegro, simples, de espírito público e iria agregar um grande valor a nossa chapa. Assim nasceu a chapa Sarney-Antônio Dino. Ganhamos a eleição por maioria absoluta, vencemos os dois candidatos do governo e iniciamos uma nova era para nosso Maranhão.
Dino agora comemora seu 1º centenário. Testemunho a grande contribuição que deu ao meu governo, sua figura humana de grandes virtudes e recordo aquele tempo em que a política tinha como fundamento a presença de líderes de grande valor.
Recordo Millet, La Rocque, Neiva Moreira, Manoel Gomes, Alarico Pacheco, Nunes Freire, Raimundo Bogéa e muitos outros que devemos relembrar como um pedaço de nossa história. Mas, hoje, é o dia de Antônio Dino, e a ele nossa grande homenagem.