terça-feira, 3 de janeiro de 2012

VENTOS DE MUDANÇA

POR FLÁVIO DINO


Os doze meses de 2011 foram intensos e inesquecíveis em várias partes do mundo. Basta lembrar que, em janeiro do ano passado, o mundo se impressionava com as notícias de manifestações populares no Egito, que culminaram com a renúncia de Hosni Mubarak, que governou o país por 30 anos. Foram convocadas eleições, mas o povo egípcio segue na Praça Tahir, exigindo maior democracia e transparência.
As manifestações populares, muitas delas organizadas por meio das redes sociais via internet, também resultaram na chamada Revolução do Jasmim, que derrubou o presidente da Tunísia, seguindo-se vários processos de mudança política no Oriente Médio e no Norte da África, em impressionantes insurreições populares. Não à toa, todo esse processo vem sendo chamado de Primavera Árabe, por sacudir uma região tão rica cultural e financeiramente, mas tantas vezes oprimida por governos autoritários, sustentados durante décadas por potências imperialistas.
O mesmo recado dado pelos povos árabes sacudiu a Europa e os Estados Unidos. Lá, os adversários não eram apenas os governantes de turno. Mas, sobretudo, a opressão financeira exercida por grandes bancos e corporações, criticada tão vitoriosamente pelo movimento Occupy Wall Street, em Nova Iorque, que produziu momentos exemplares, como as passeatas do dia 15 de outubro – realizadas em escala global. Pela Europa, espalharam-se protestos contra as tentativas de governos locais de transferir para a maioria da população o custo da crise financeira, causada pela concentração de riqueza e por políticas recessivas que aniquilaram o mercado interno. Milhares de cidadãos foram às ruas – como o movimento Indignados, na Porta do Sol em Madri – para exigir que não fossem reduzidos direitos sociais para gerar os recursos necessários ao socorro de bancos, em vez de serem enfrentadas as reais causas da crise.
Este agravamento, em 2011, da crise que teve início em 2008 foi um fato marcante do ano que passou. Desta vez, foram atingidas fortemente economias mais centrais, como a da Itália, levando a se cogitar até mesmo a extinção do Euro e, no limite, da União Européia. Tais medidas, se adotadas, seriam uma derrota política, dado que representaria o fim de uma tentativa de cooperação econômica que transpassasse fronteiras, na qual o Mercosul e a Unasul se espelharam para surgir.
Em meio a este cenário mundial nada simples, a América Latina como um todo, com destaque para o Brasil, vem consolidando seu bom momento, que conjuga a um só tempo crescimento econômico, distribuição de renda e democracia plena. Essa combinação inédita está permitindo que enfrentemos a crise sem reduzir direitos sociais. Como divulgado amplamente na semana passada, já somos a sexta maior economia do mundo, e caminhamos com rapidez para estar entre as cinco mais fortes.
Repete-se, assim, a receita que permitiu ao Brasil atravessar a tormenta de 2008: apostar fortemente na distribuição de renda para formar um mercado interno de massas, que dê sustentabilidade ao crescimento. Nossa economia, durante décadas, cresceu pouco e para poucos. Como toda a indústria, o comércio e o sistema financeiro do país estavam voltados a uma minoria com poder de compra, qualquer crescimento um pouco maior gerava inflação. Para solucionar o problema, o governo tentava segurar a inflação segurando também o crescimento, com aumento de tributação e/ou dos juros.
Nos últimos anos, aprendemos que não só podemos crescer gerando mais renda para todos os brasileiros, como essa é a forma mais sustentável de garantir que a economia continue girando. No entanto, novos momentos desafiadores no cenário externo exigem renovações ousadas dos caminhos que escolhemos. Precisamos aprofundar as políticas de desenvolvimento, ampliando as políticas de distribuição de renda para além das medidas compensatórias, buscando reformas estruturais que alterem os critérios de uso e partilha da riqueza socialmente produzida. Esse é um debate fundamental para os movimentos sociais e representantes políticos retomarem a partir do ano que agora começa.
Os ventos de mudança que percorreram o planeta em 2011, e que continuarão agitando as folhas das árvores do poder em 2012, chegarão a milhares de municípios brasileiros, com as eleições municipais. O ano que se inicia será marcado pelo debate intenso sobre os rumos de cada um dos mais de 5 mil municípios brasileiros – sendo 217 localizados no nosso Maranhão.
Além de dirigir a Embratur, a grande tarefa política a que me dedicarei em 2012 será ajudar as nossas cidades a eleger prefeitos, vice-prefeitos e vereadores honestos e trabalhadores, que governem bem, não tenham medo de pressões nem cedam a cooptações sempre almejadas pelos operadores da oligarquia decadente.
As gigantescas hélices que impulsionam os ventos da mudança, em todos os recantos do mundo, estão em nossos corações, no nosso espírito. Fazê-las girar depende de uma férrea vontade coletiva, baseada nos sonhos e desejos de cada um. Que Deus nos inspire e ajude neste ano de 2012. Feliz ano novo para todas as famílias do Maranhão.

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