quarta-feira, 23 de julho de 2014

PERMISSIVIDADE E CONSTRANGIMENTO


Editorial  DO JORNAL PEQUENO, 22 de julho de 2014

Na origem do que aconteceu com uma equipe de jornalismo do Fantástico no município de Anapurus está a permissividade dos ataques contra a imprensa no Maranhão; na origem do esquema de corrupção denunciado, está a indecência de um modelo político que se acostumou a vencer eleições com maços de dinheiro, conforme fotos e vídeos amplamente mostrados em sites e blogs depois do ataque.
A imagem construída de brucutus cercando repórteres da Globo e avançando sobre as câmeras, na solidão de municípios bem distantes dos grandes centros do país, dá uma idéia do terror que eles viveram e do que poderia ter acontecido se não tivessem se identificado imediatamente como funcionários da todo-poderosa Rede Globo. Foi um crime cometido por policiais, por parentes de prefeitos, altos funcionários de municípios maranhenses. E aconteceu porque o cerceamento da liberdade de imprensa no Maranhão se tornou uma banalidade, na medida em que o poder e o tráfico de influência corroeram as instituições.
Ninguém, no mundo político desse Estado, espera castigo por afrontar jornalistas, por perseguir profissionais de imprensa. E aí estão como exemplo as dezenas de processos e os ataques que o Jornal Pequeno já sofreu. A permissividade dessa política de terror herdada do coronelismo e da ditadura, que limita o noticiário, castra o jornalismo de opinião, silencia emissoras de rádio, privilegia a omissão e a mentira, levou as autoridades de Mata Roma e Anapurus a cometerem a estupidez de atacar repórteres da Rede Globo. Não são jornalistas do Maranhão, mas eles não souberam ver a diferença e estão às voltas agora, além da CGU, com a Polícia Federal.
O tom da matéria foi fulminante. “O bando cercou os repórteres. Dois bandidos entraram no carro”. Bandidos? “Os ladrões fugiram em dois veículos levando as câmeras”. Ladrões? E havia entre eles dois policiais, o irmão de um ex-deputado que já foi secretário do município, um sobrinho da prefeita Tina Teles, de Anapurus. O mais provável é que um jornalista maranhense que assim se expressasse iria parar na cadeia.
E essa imagem revelada para o Brasil e para o mundo na reportagem do “Fantástico”, de um Maranhão atolado na corrupção, na pistolagem, no banditismo político, na capangagem, resfria o coração nativista de quem realmente ama o Maranhão. O castigo de Deus, porém, se impõe porque as verdades que estamos proibidos de escrever, as imagens que somos proibidos de divulgar, as palavras que estamos proibidos de falar, parecem ter ganho o poder de sair sozinhas pelo mundo, sem nenhuma conexão com a “Boca do Inferno” para denunciar esse verdadeiro regime de terror.
E o Brasil sabe agora que enquanto alguns poucos arrotam riqueza, o povo maranhense não dispõe sequer de uma privada onde diluir seu constrangimento e sua decepção.
Parabéns, José Sarney!

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