Do blog do Linhares
Estamos vivendo o crepúsculo do grupo Sarney. Independente dos resultados das próximas eleições, a decadência de uma das facções mais poderosas da política local e nacional é inevitável. A insubordinação do presidente da Assembleia Arnaldo Melo, que nega-se a atender as ordens da governadora, é apenas um sinal. O grupo não está apenas sem comando, dá sinais de não querer ser comandado. E isso leva, inevitavelmente, ao fim de um ciclo.
A estratégia do Grupo Sarney traçada para as eleições de outubro está pronta faz tempo: Washington, petista que ocupava o cargo de vice no governo Roseana, seria colocado em uma vaga no Tribunal de Contas do Estado e iria sair da linha sucessória. Após isso, no momento certo, Roseana renunciaria, Arnaldo Melo presidente da Assembleia Legislativa então iria assumir um mandato curto. A lei iria obrigá-lo a convocar uma eleição indireta em que os deputados elegem o governador para cumprir o resto do mandato. Luís Fernando seria candidato do grupo, venceria com a ajuda da base aliada e disputaria a reeleição ao lado de Roseana como candidata ao senado. Pelo menos era assim na cabeça dos líderes.
Ocorre que Arnaldo Melo, peça fundamental nessa estratégia, simplesmente “melou tudo”. O presidente da Assembleia Legislativa deu sinais de que se assumisse a vaga de governador na ausência de Roseana, iria disputar o mandato “tampão”. E, pior que isso, despertou a desconfiança de todos em relação a quanto estaria disposto a ajudar na eleição de Luís Fernando. Estava sacramentada a rebelião branca no Grupo Sarney.
Arnaldo deu de ombros ao planejamento do grupo e não sofreu qualquer tipo de censura. Muito pelo contrário, alguns membros graúdos do grupo ficaram do seu lado e apoiaram sua decisão em não cumprir o programado. Até mesmo a oposição flertou com o presidente da Assembleia. Afinal de contas, não é preciso ser nem um gênio político para perceber que uma fresta havia sido aberta. Logo, a falta de vida inteligente na oposição não foi uma barreira para a entrada no jogo.
Apesar de tudo isso, ainda restava esperança. Cedo ou tarde Arnaldo Melo daria o braço a torcer, cumpriria o programado e tudo voltaria ao normal. No entanto, algo muito mais emblemático. Quando um deputado do baixo clero como Rogério Cafeteria levanta a voz e manda recado, algo de muito errado está acontecendo. Rogério Cafeteira não chega a ser reserva no grupo Sarney. Quando um grupo está sob controle, figuras como Rogério costumam a “tirar o seu da reta”. Mas, em situações de caos a coisa muda de figura…
Roseana, como forma de demonstrar uma autoridade que não possui mais, diz que ficará no cargo e irá tocar a eleição de Luís Fernando. Vejam a que ponto chegou a crise: a chefe máxima está sendo obrigada a sacrificar uma eleição fácil de senadora porquê não consegue garantir uma coisa simples como a eleição de Luís Fernando por deputados que são sustentados, apadrinhados e apoiados por… ela.
Vejam o caso da vaga para o senado. A simples possibilidade de não candidatura da governadora já abriu a deixa para outra guerra fratricida dentro do grupo. Gastão Vieira, Edinho Lobão e mais um “feixe e uma carrada” querem a vaga. Se nem mesmo uma questão simples como a vaga para o senado parece ter solução no horizonte, dá para se imaginar porque a campanha para governo do estado se resume à ordens de serviço.
Pois bem: o grupo Sarney não consegue mais controlar suas figuras chave e não consegue sequer intimidar os nanicos. O fim está próximo. Caso Luís Fernando seja eleito, com absoluta certeza irá lembrar de cada um dos nomes que hoje lhe causam problemas. Uma reedição deste motim com absoluta certeza será remediada com antecedência. Luís Fernando assumiria em meio a uma crise de autoridade dos “chefes”. Terreno fértil para uma mudança estrutural.
E se Flávio Dino for eleito? Aí a coisa terá um viés apocalíptico. Sem comando o grupo irá se fragmentar imediatamente após as eleições. E o novo governador comunista terá muita facilidade em esmagar o que restou. Obviamente existirão os traíras, os mesmo da época de Jakcson Lago e José Reinaldo que depois voltaram a ser roseanistas. Flávio irá aproveitá-los, mas se for esperto deve fazer uma “limpeza”. Quem beijar o anel será recebido e rebaixado a um papel secundário na política. Flávio Dino possui seus generais, e será muito difícil absorver o número de “viúvas” do grupo.
De uma forma, ou de outra, o grupo Sarney dá sinais de fadiga. Externamente possui um adversário competitivo. Internamente não consegue sequer fazer com que cumpram o ordenado. Com Luís Fernando deve ser reciclado, com Flávio Dino será vaporizado.
Por tudo isso, cheguei a conclusão de que o debate sobre a permanência do Grupo Sarney, ou não, na política é secundário. Eles estão acabados. Resta saber é o que o vencedor das eleições irá fazer co o que interessa, o que ele irá fazer com o povo.
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